
A literatura produzida por mulheres em Mato Grosso do Sul e no mundo foi tema de discussão em roda de conversa na sexta-feira (27) na Casa da Memória Raída durante o 19º Festival de Inverno de Bonito.
Mediada pela jornalista Evelise Couto, responsável pelo grupo de leitura Leia Mulheres em Campo Grande, a mesa foi composta pelas escritoras Tânia Souza, Gleiciele Nonato, Janete Zimmermann e a contadora de histórias Tatiana de Conto Sangalli. Além de contarem sobre suas experiências com o mercado editorial, elas discutiram as dificuldades de se posicionarem enquanto produtoras de literatura. “Para se ter uma ideia, entre 1965 e 2014 no Brasil, 70% dos autores publicados são homens e, em 2014, uma antologia com 101 autores ditos os mais significativos do mundo todo foi publicada, e apenas 14 eram mulheres”, observa Evelise Couto.
Janete acrescentou ponderando as muitas dificuldades que as mulheres têm para produzir, visto que ainda tem que se sustentar e cuidar de inúmeras outras responsabilidades seja com família ou estudo, “Como não bastasse a dificuldade que é se manter como autoras, ainda temos uma série de responsabilidades em nossas vidas que nos tomam tempo que seria precioso pra poder produzir.”

A escritora Tânia Souza circula por vários gêneros literários, dentre eles literatura fantástica, sobre a qual pontua: “É um meio tomado por homens. Uma situação recente que enfrentei foi em uma coletânea que participei, dos 10 autores convidados, só eu era mulher. Existe muito preconceito entre as editoras e mesmo entre os leitores”. Nascida em Coxim, a autora Gleiciele Nonato faz uso da temática folclórica em sua produção. Indígena, ela conta que um dos focos de sua produção é manter viva a cultura Guató, da qual ela faz parte, “Eu uso as vivências da família, as histórias da minha bisavó mesmo, são muito presentes na minha escrita”. Gleiciele emocionou a plateia ao recitar sua poesia Índia do Rio.
A contadora que tem conto até no nome, Tatiana de Conto, adaptou a tradicional narrativa russa Vasalisa, com a interpretação de Clarissa Pinkola Estés, em sua apresentação, tendo a sensibilidade de trazer um desfecho em que empodera a personagem, transmitindo a ideia de que mulheres tem que apoiar umas às outras. Ela ressalta ainda, “Contar histórias não é apenas pra crianças. Todos precisamos de histórias, inclusive adultos como nós.”
O debate lotou o espaço e se prolongou após a apresentação, indicando um assunto que merece destaque. A pauta feminina continua hoje (28) às 14h, no mesmo local, com o tema Mulheres na História da Arte.
Gleiciane Nonato declama seu poema “Índia do rio”.
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