Por Dr. Arnaldo Cambiaghi*, médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva
Cada dia se torna mais comum a ovodoação entre pacientes em tratamentos para engravidar. E é interessante lembrar que a primeira gestação resultante de uma ovodoação ocorreu em 1984. A paciente tinha falência ovariana prematura, ou seja, entrou precocemente na menopausa. A doação de óvulos é realizada no país há mais de uma década. Ela é legal, contanto que não haja fins comerciais e seja anônima. Portanto, a doadora não saberá a identidade da receptora e vice-versa – é o que determinam a lei e a ética. Chamamos de doadora a mulher que será estimulada para um ciclo de fertilização in vitro, que resultará a coleta de vários óvulos, dos quais metade (doação compartilhada) será doado para uma outra mulher que não tem mais capacidade de produzi-los – esta é a receptora.
“A doação de óvulos não consiste em um simples ato de entrega descontrolada, mas, sim, em uma atitude pensada e generosa, com o objetivo maior de proteger, preservar, eternizar, restaurar e conservar a família e o amor”, comenta o médico ginecologista e especialista em Medicina Reprodutiva Arnaldo Cambiaghi, diretor do Centro de Reprodução Humana do IPGO.
É importante lembrar que a receptora precisa ter seu útero preparado com hormônios (estradiol e progesterona) antes de receber o(s) embrião(ões), que serão mantidos até o terceiro mês de gestação, quando a placenta passa a ser a responsável pela manutenção da gravidez. Após o terceiro mês, a gestação evolui normalmente, sem a necessidade de suporte hormonal. O pré-natal é igual ao de uma gravidez concebida naturalmente e a mãe poderá amamentar sem nenhuma diferença de uma gravidez espontânea.
Compensação econômica?
A doação deve ser voluntária e considerada uma generosidade da paciente doadora. Óvulos não podem ser vendidos.
Quem recebe ajuda?
Graças a essa solidariedade a doadora ajuda:
- Mulheres que tiveram câncer e foram submetidas a tratamentos oncológicas (quimioterapia) e não produzem óvulos;
- Mulheres jovens que entraram na menopausa precocemente (menopausa precoce ou falência ovariana prematura).
- Mulheres na menopausa cujos ovários não têm mais óvulos, devido à idade;
- Mulheres com doenças genéticas que seriam transmitidas aos seus descendentes ou que fazem os ovários não responderam à medicação.
- Mulheres cujos óvulos não têm a qualidade suficiente para conseguir gerar um filho.
Programa de Banco de óvulos
Com a vitrificação de óvulos, hoje é possível que pacientes que precisam receber óvulos não precisem aguardar que se encontre uma doadora para realizar o tratamento. Os óvulos podem ficar armazenados até que alguém que precise possa usá-los.
Quem se propõe a doar óvulos costuma ter dúvidas que precisam ser esclarecidas
1 – Um dos mais frequentes questionamentos é o número de vezes que uma mulher pode doar óvulos. O número de ciclos, que são feitos na clínica, depende de diversos fatores. Legalmente não está determinado um número especifico de doações. A doação de óvulos não tem efeitos secundários. Não causa aumento de peso, não acelera a menopausa, não aumenta a incidência de câncer e nem existe um aparecimento súbito de acne ou pelos, como alguns acreditam. Doar óvulos não significa que se esgotem ou que se acelere a menopausa. Uma mulher nasce com uma quantidade de óvulos ao redor 2 milhões. Na ocasião da primeira menstruação (menarca) essa quantidade diminui para 300 a 400 mil óvulos. Os óvulos vão se perdendo com o passar dos meses das menstruações. Em cada ciclo normal começam a crescer cerca mil óvulos, mas no final só um alcança o desenvolvimento suficiente para chegar a ovular. Com o tratamento, conseguimos que vários óvulos alcancem o tamanho adequado para poderem amadurecer sem que isso afete o total de óvulos que a mulher possui. Portanto, independente da estimulação ovariana e o número de óvulos que serão retirados, a perda mensal permanecerá a mesma, mil óvulos por mês. A reserva ovariana permanecerá idêntica independente de ter doado ou não parte dos seus óvulos. Apenas o ‘desperdício’ será evitado.
2 – A doadora não conhece a identidade das crianças nascidas por meio da Reprodução Assistida: “O anonimato é total. A lei proíbe expressamente que se revele a identidade das crianças nascidas por meio dessa técnica. Portanto, nem as doadoras podem conhecer as crianças, nem estas as doadoras. A equipe médica realiza a seleção da doadora de óvulos que procura garantir a maior semelhança fenotípica com a receptora. Nunca poderá selecionar–se pessoalmente a doadora a pedido da receptora”, afirma Cambiaghi.
3 – Durante a estimulação dos ovários até a nova menstruação, depois da punção folicular, não é aconselhável manter relações sexuais, tanto pelo risco de gestação múltipla, como pelo risco de torção dos ovários. A doadora não pode usar contraceptivos.
4 – A punção folicular é realizada em sala estéril, especializada, com a paciente sob sedação, mas só é necessário permanecer na clínica durante 2 a 3 horas. Não é necessário internação. O processo é geralmente bem tolerado e só excepcionalmente comporta algum risco, como a síndrome da hiperestimulação dos ovários, o que, hoje em dia, não acontece graças à combinação de medicamentos antagonista/agonista. “Outros riscos também descritos, como a infecção, sangramentos abdominais ou a torção dos ovários, ocorrem raramente. De qualquer forma, o tratamento é individualizado o e a doadora é acompanhada periodicamente para minimizar qualquer risco”, explica o médico.
5 – A doação de gametas e pré–embriões é definida como um contrato gratuito, formal e confidencial acordado entre a doadora e o centro autorizado que sejam respeitados os três requisitos da doação;
- Gratuidade: a doação é um ato gratuito e altruísta. A doação nunca poderá ter caráter lucrativo ou comercial.
- Formalidade: o contrato entre os doadores e o centro autorizado deve efetuar-se por escrito.
- Anonimato: a doação é anônima, devendo garantir- se a confidencialidade dos dados de identidade dos doadores. Os filhos nascidos têm o direito por si próprios, ou por meio dos seus representantes legais, a obter informações gerais dos doadores, tais como a altura, o peso, o grupo sanguíneo, mas as informações nunca incluirão suas identidades.
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