Francisco Maia – A Expogrande é uma feira mais focada na pecuária, pois Campo Grande nunca foi referência nacional em agricultura, embora tenha essa atividade e uma posição boa no cenário agrícola nacional, mas o destaque sempre foi a pecuária. Campo Grande hoje deve ser o maior centro de pecuária do Brasil. Temos aqui a realização e comercialização do maior número de leilões possíveis, a melhor genética do país é a nossa, os pecuaristas assimilam muita informação e conhecimento e são empreendedores, e somos o mercado que mais exporta carne. Afirmo que Mato Grosso do Sul é excelência em pecuária. Sendo assim, com toda essa história, são 77 anos de cultura, naturalmente a feira é uma das maiores, e em comercialização de gado de corte é a maior do Brasil.
O Estado – A exposição abre o calendário de eventos?
Maia – Em relação ao gado de corte, sim. A pecuária está passando por uma seleção, em relação às exposições. E aqueles gados de pista tendem a diminuir, sendo que hoje é mais focado em número genético, que não tem necessidade de ser gado de pista. Isso acontece porque, para se analisar hoje qual o melhor touro ou o melhor sêmen, não há necessidade de estar com o gado na pista. Hoje em dia são disponibilizados os números, as Deps (Diferença Esperada na Progênie), com controles genéticos e aferições científicas que não necessitam dos touros em pista. É um dos motivos pelo qual alguns pecuaristas não levam mais os animais para a pista. Tudo o que tivemos de melhoramento até hoje foi pela pista, mas essa é uma evolução da ciência, que começa a ter outros indicativos.
O Estado – Faz cinco anos que o sr. assumiu a presidência da Acrissul. Nesse tempo, quais foram os anos mais difíceis para a realização da feira?
Maia – Todos os anos, pois tivemos muitas exigências na questão de licença ambiental. O Ministério Público ficava atrás, por causa da realização dos shows. Para se realizar uma feira dessa magnitude, é importante que até o tempo conspire a nosso favor e que todos ajudem. Houve diversas exigências por parte do MP, e isso dificultou, pois no dia da abertura da Expogrande, não sabíamos se poderia ser ou não realizada. Eu cansei de fazer a abertura e ter oficial de Justiça atrás de mim.
O Estado – Houve um lado positivo nisso?
Maia – Sim. A Acrissul precisou se adequar. O nosso parque é o único do Estado com licença ambiental, deixa de ser de exposições para ser um parque de eventos. Estamos com a melhor estrutura da cidade para se promover shows e eventos, tudo com licenciamento. Precisamos buscar alternativas para atravessar esses problemas. Cedemos parte do parque para uma rede de supermercados. A Acrissul trabalhou muito nessa questão de infraestrutura do parque, para que fosse adequado aos licenciamentos ambientais, com grandes investimentos, rede de esgoto e esquema solicitado pelo Corpo de Bombeiros e sem dinheiro público, tudo com o nosso dinheiro.
O Estado – Quais os principais destaques das adequações?
Maia – Em relação a segurança, talvez seja o espaço mais seguro para a família. E a exposição é um evento da família. Temos um espaço na Expogrande onde crianças de escolas públicas e particulares fazem visitação. São mais de 7 mil, onde elas têm contatos com os animais. É mostrado às crianças que o leite não nasce da caixinha. Isso serve para fortalecer a nossa cultura, pois a riqueza de Mato Grosso do Sul sempre será essa, a realidade do campo.
O Estado – A Expogrande se esforça para ser ainda mais atrativa para o produtor, mas também busca opções para contemplar o público em geral. Qual a importância da participação da população para o sucesso da feira?
Maia – Não existe festa boa sem gente. Essa é a 77ª exposição, o único ano em que não teve a exposição foi durante a Segunda Guerra Mundial. Essa é uma forma do homem rural mostrar o seu trabalho e o que faz de melhor, confraternizando- -se com a cidade. Esse também é um dos motivos pelos quais a Expogrande se tornou patrimônio cultural da cidade, e é aí que nós estamos liberados para realizar shows, eventos e tudo mais.
O Estado – Tem uma expectativa de público para a 77ª edição?
Maia – Nos dias em que não haverá grandes shows, que serão shows regionais de boa qualidade, a entrada será gratuita para o público. Nos dias de grandes shows, como Jorge e Matheus e Thiaguinho em um dia, há meia-entrada a R$ 15. Quem não quiser assistir ao show pode trazer a família no fim da tarde, terá parquinho de diversão. Acreditamos que este ano receberemos mais de 200 mil pessoas nos dez dias. Só de crianças são 7 mil, e isso não conta em bilheteria. Só de caminhões boiadeiros que trazem animais são mil, e mais mil que levam. Isso movimenta muitos trabalhadores, fomenta o comércio.
O Estado – Quanto a Expogrande lucrou em 2014?
Maia – Entre negócios iniciados aqui na Expogrande e fechados nos bancos, no ano passado lucrou-se R$ 600 milhões. Em Mato Grosso do Sul não se comercializa nada próximo a esse valor. De cabeças de gado, foram mais de 20 mil. Se pegar valor unitário de gado, vamos comercializar mais de R$ 20 milhões. Houve uma valorização grande em relação ao preço pago do bezerro. Ano passado, um bezerro custava R$ 900, neste ano está em R$ 1,5 mil.
O Estado – O tamanho do rebanho estadual diminuiu nos últimos quatro anos, de acordo com o IBGE. O que isso pode significar?
Maia – Isso é questionável. Quando encurta o tempo de produção, compensa na quantidade. Por exemplo: se eu tenho 20 milhões de animais e eles são abatidos com quatro anos, e se eu tenho 15 milhões de animais que são abatidos com dois anos. Os 15 milhões produzem mais que os 20 milhões. Se de um lado se perde em números, do outro se ganha em produtividade e qualidade. Nossa pecuária de corte é a melhor do país. Não foram apenas as fêmeas que diminuíram, Mato Grosso do Sul cresceu em outras atividades, como plantação de lavouras e eucaliptos com 700 mil pés, 400 mil de cana-de-açúcar e apenas agora os produtores estão se adequando à silvicultura e à lavoura-pecuária.
O Estado – Em relação à diminuição de abates nos frigoríficos, a falta de gado contribuiu com as demissões. Isso é algo que pode continuar acontecendo ou é um cenário atípico?
Maia – Acredito que seja uma questão de gestão e de procedimentos de cada frigorífico. Os que estão atuando no mercado têm concorrência pesada, pois hoje há grandes grupos que atuam fortemente. Só que isso, para o produtor rural, é uma segurança, porque por muito tempo os produtores levaram prejuízos de frigoríficos e agora estão vivendo com paz, pois melhorou muito a relação dos produtores com os frigoríficos. A Acrissul tem investido muito nisso, e criamos uma agenda positiva que partiu da associação, como publicidade e propaganda, que deu tanto resultado que aumentou o consumo de carne. Temos melhorado nossa relação com a indústria, porque negócio bom é quando fica bom para todo mundo.
Fonte: Jornal O Estado MS, de 20 de abril de 2015, por Renata Volpe Haddad – Foto: Guilherme Pimentel