David Robledo Di Martini explica à Educativa 104.7 FM como surgiu convite para representar o Brasil em uma das mais importantes feiras tecnológicas do mundo graças a sistema para monitoramento de pragas em lavouras

Egresso de escolas públicas, como a Municipal José de Anchieta e o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, O estudante David Robledo Di Martini, 21, que cursa Engenharia Elétrica na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), teve um projeto de sua autoria, voltado para a identificação e monitoramento de pragas em lavouras –e também usado para identificação de árvores nativas em extinção–, selecionado no Grande Desfio Estudantil, sendo convidado a ir a Yokohama (Japão) participar da IGARSS 2019 apresentar o resultado do trabalho entre 28 de julho e 2 de agosto.
Para levar o nome do país ao exterior naquele que é considerado o maior evento de drones e tecnologia de assessoramento remoto do mundo, contudo, ele precisa de apoio financeiro, já que a bolsa fornecida para o desenvolvimento da pesquisa banca apenas parcialmente os custos.
David foi convidado a falar sobre o resultado do trabalho no Bom Dia Campo Grande desta terça-feira (9). Em entrevista à Educativa 104.7 FM, o estudante explicou as motivações e o resultado de um trabalho construído ao lado de dez pessoas. O primeiro resultado foi um drone, que realiza baixos sobrevoos em lavouras de soja, abaixo das folhas, atrás de pragas que possam prejudicar a produção.
Além da UFMS, o trabalho contou com importante parceria na UCDB, salientou ele, com o desenvolvimento do software –realizado pelo também estudante Everton Tetila. O equipamento, explicou o estudante, “captura a imagem na parte inferior da câmera, envia para o computador e o software identifica quais pragas atacam a lavoura e faz a contagem das mesmas a partir da imagem do drone”. Hoje o processo, conhecido como “pano de batida”, é feito manualmente, “mas nem sempre é realizado porque a área de plantio é enorme, é custoso e, por isso, acabam preferindo o agrotóxico. Mas isso é prejudicial para o meio ambiente e os consumidores”.
A avaliação é que a tecnologia torna mais barato o manejo para o produtor. Atualmente, o alcance de transmissão é de dois quilômetros de distância para garantir boas qualidades de imagem. O mesmo equipamento, explicou David, é utilizado para identificação de espécies florestais, caso do baru –que é protegido por lei sancionada em 2015 pelo governador Reinaldo Azambuja.
“Além de ela ser protegida tem o aspecto socioeconômico, pois há famílias que vivem da castanha, do fruto. Hoje é feito por inventário agroflorestal, a pessoa acessa as áreas mais remotas para identificação e localização. Todo o aparelho de posicionamento é de precisão mas, como a área é muito grande, fazem amostragem, por método estatístico”, afirma. Com o drone, a taxa de sucesso tem sido de 84%, afirmou o estudante, “muito bom pela complexidade do programa”.

Caminho
O edital do prêmio prevê US$ 6 mil para o desenvolvimento da pesquisa e, também, custeio da viagem –valor insuficiente, segundo ele, para bancar todas as despesas. Apesar dos desafios para tentar viabilizar a viagem, o estudante afirma que o projeto tem valido a pena.
David descobriu o edital em 2018 por indicação do orientador, o professor José Marcato, da UFMS, havendo foco no desenvolvimento de drones e dispositivos de interação com o usuário –a criação de aplicativos para dispositivos móveis também integra o projeto de agricultura de precisão. Além desse trabalho na área, houve outros quatro contemplados em todo o mundo.
A seleção, porém, exige a apresentação pessoal do projeto em Yokohama. Além da bolsa já disponibilizada, campanhas em redes sociais e uma Vaquinha Online viabilizaram R$ 1.630, faltando ainda cerca de R$ 5 mil.

Educação
Com a vida estudantil sempre em escolas públicas, Deivid afirma que, desde cedo, interessava-se por ciência –a partir de brincadeiras comuns a crianças, como desmontar brinquedos para saber como os mesmos funcionavam. “Muita gente acha que a ciência é só para superdotados, e não é. A partir do momento em que se tem interesse no que estuda, lê e faz, tudo acontece naturalmente. Claro, tendo pessoas que apoiam ao redor, porque é complicado fazer isso sozinho”, afirmou, agradecendo às pessoas que acreditaram nele e na ideia.
Depois de ganhar a medalha de mérito ao deixar o Ensino Fundamental, David se interessou pela área de pesquisa no IFMS –citando o professor João César Okumoto, responsável pela sua primeira iniciação científica, ao destacar que sempre contou com ótimos professores. “O amor deles em dar aulas, a paixão pela matéria desperta nos alunos o interesse”.
Depois de migrar da Engenharia Civil para a Elétrica, David afirma desejar continuar na área acadêmica, buscando mestrado, doutorado e o pós-doutorado, “mas não gostaria de deixar de lado o empreendedorismo. Talvez abra uma empresa na área e continue nessa parte de desenvolvimento de tecnologia”.
Yokohama
Para buscar apoio e conseguir ir ao Japão, o estudante lançou uma campanha de arrecadação na internet (clique aqui para acessar), batizada de “Ajude David a ir para Yokohama (Japão) representar o Brasil”. Além dele, outros estudantes da UFMS irão a Yokohama, mas para participar de outro projeto. Lá, estarão sob olhares de muitas das principais autoridades do mundo na área de softwares de detecção em geomática.
A IGARSS (International Geoscience and Remote Sensing Symposium) é organizada pelo Instituo de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos Incorporados (IEEE, na sigla em inglês), instituição sem fins lucrativos de Nova York (EUA) voltada a entidades educacionais e científicas em prol da profissão e da sociedade e da promoção da inovação e tecnologia, ao lado da Soceidade de Geociências e Sensoriamento Remoto (GRSS, também em inglês, que integra a IEEE).
Sintonize – Com produção de Rose Rodrigues e Alisson Ishy e apresentação de Maristela Cantadori e Anderson Barão, o Bom Dia Campo Grande permite aos ouvintes começarem o dia sempre bem informados, por meio de um noticiário completo, blocos temáticos e entrevistas sobre temas diversos. O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h30, na Educativa 104.7 FM e pelo Portal da Educativa.