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26 de abril de 2024 - 13:48

“Três dicas de bons livros para o deleite dos leitores com os mais variados gostos e preferências”

Nas aulas de literatura, incessante é a pergunta que sempre aparece: “professor, a literatura vai acabar?”. A questão é esperada, já que a ascensão das tecnologias e as práticas sociais eletrônicas de entretenimento nos levariam a crer que a leitura, bem como a leitura do texto literário, anda um tanto reduzida. Os números das editoras, entretanto, mostram outra perspectiva, com um número muito grande e variado de edições, que procuram abarcar os mais variados gostos (abordaremos estas edições em outro artigo). As estratégias de fisgar os leitores já atingiram a escrita literária e a concepção dos escritores, que realizam uma mescla de gêneros e níveis de linguagem,ricos na potencialidade de interlocução. Na onda destas inovações, apresento-lhes três dicas de bons livros para o deleite dos leitores com os mais variados gostos e preferências:

Primeiramente “Esperar Alguém”, de Fabrício Carpinejar. Sua escrita une a herança dos mais rebuscados escritores, com humor e informalidade reflexiva. Lembra, em alguns momentos, Drummond, mas é claro, guardando as proporções na comparação, já que o poeta nascido em Itabira, quando acende o tom de uma poesia pensante, é quase insuperável. Mas a comparação com Drummond é covardia, emboraCarpinejar não se saia mal. “Espero alguém” é composto por, digamos, crônicas da separação, um belíssimo “tratado” existencial que vai da autodestruição ao bom humor e que relata em “crônicas poéticas” o processo do fim de seu casamento. O poeta, na experiência cronista, utiliza recursos da poesia para criar uma escrita pontuada, sábia, com uma tonalidade meio confessional e meio blogueira, criando trechos memoráveis como “Espero alguém que não tenha medo do escândalo, mas tenha medo da indiferença. Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim. Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer. Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana. Espero alguém que nunca abandone a conversa quando não sei mais falar […]”. O livro é divido em partes progressivas, que vão do fim do relacionamento, no começo do livro, à superação, no final. A própria denominação das partes falam por si: A esperança, O Fim, O reinício, Sou assim, Somos Assim, Meus outros, O segredo. O interessante é que, do ponto de vista do estilo, Carpinejar deixa no livro um rastro de inteligência estética, porque praticamente “explode” o gêneroao colocar uma sequência evolutiva e memorialista, já que as crônicassão costumeiramente marcadas pela referência ao cotidiano e aos dados imediatos e geralmente ligados a fatos públicos da vida citadina. Não é nenhuma pena ler a pena do poeta, e nem é preciso dizer que a leitura do livro vale a pena (do poeta).

A segunda dica é o livro de Cristóvão Tezza, que conquistou imensa notoriedade, nacional e internacional, com o livro de 2007, “O filho eterno”, ganhando o prêmio Jabuti em 2008. De lá para cá, todos os seus livros foram reeditados e o escritor, nascido em Lages (SC) e residente em Curitiba (PR) desde os 7 anos, alcançou posição de destaque na literatura brasileira contemporânea, sendo um de seus mais badalados escritores. Após “O filho eterno”, o escritor iniciou sua via como cronista da Gazeta do Povo, jornal de Curitiba, e destas crônicas o jornalista Christian Schwartz extraiu um número de cem, para a publicação do livro “Um operário em férias”. A seleção favoreceu a leitura, pois foram escolhidas crônicas mais perenes, embora de leve leitura, menos referentes ao cotidiano e de certa forma atemporais, pois a presença de uma escrita ficcional, com fino e sutil humor, deve envolver o leitor mais exigente em igual proporção. O livro também é dividido em partes, como “Viagens pela leitura”, “Curitiba no divã” ou ainda “De volta à vida real”, aglutinadas por temas e que formam um retrato muito pessoal da cultura contemporânea. Crônicas como “Sociedade e Tribo”, “O fim do capitalismo” ou “Platão e o Enem” devem envolver o leitor em um curioso fio tênue, costurado pelo humor, entre a alta cultura e as referências pop-midiáticas presentes nas redes sociais.

A última sugestão é um livro bastante instigante pela sua proposta: ler um livro enquanto o leitor escuta certas músicas indicadas para o momento da leitura, isto é, um livro para ser lido com trilha sonora. É o romance de estreia do jornalista Paulo Henrique Ferreira, “Álbum Duplo – um roque romance”. O livro possui uma pegada interativa e nutre um fervor inabalável pelo rock’n’roll. Conta os percalços por que passa o personagem MarloRiogrande, após ter perdido sua namorada Marcela. As canções sugeridas – que vão de Belchior, Bob Dylan, Rolling Stones e Pink Floyd, até chegar em elementos da cultura pop – formam o centro da narrativa, embalando as reflexões do narrador em primeira pessoa e que passam por temas como o amadurecimento dos jovens e a difícil transição para a vida adulta. Ao “conversar” com clássicos de Lou Reed e David Bowie, o narrador vai tentando recuperar seu grande amor. É um livro leve – pois a linguagem é informal – e é para se lido rapidamente, de preferência com headphone, pois aqui tudo tem a ver com tudo na relação literatura e música. Faz tempo a combinação literatura e rock’n’roll não produzia um fruto tão instigante. Aumenta que isso aí é literatura!

* Daniel Abrão – é doutor em Teoria Literária e professor na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.

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