Muros de escolas da Rede Estadual de Ensino de Campo Grande tornam-se verdadeiras obras de arte para retratar questões sociais. Para isso, o projeto “Agenda 2030: ODS nos Muros” conta com o talento de 17 artistas mulheres.
Com tinta nas mãos e a criatividade em mente, 17 artistas mulheres já começaram a retratar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável nas paredes de escolas da Capital. É o projeto “Agenda 2030: ODS nos Muros”, da Fuá Produções, que busca fazer do ambiente escolar uma verdadeira galeria à céu aberto para abordar de forma lúdica, com alunos e professores, questões emergenciais do nosso planeta como meio ambiente, mudança climática, erradicação da pobreza, direitos humanos, consumo de água, etc.
“Já passamos por quatro escolas e a gente traz essa linguagem artística para a galera do ensino médio que tem essa aproximação com as cores. Muitos querem pintar junto com as artistas, inclusive alguns pintam e ficam mais interessados”, explica Julia Basso, idealizadora do projeto e coordenadora da Fuá Produções que tem visto a magia acontecer de perto. “Teve uma aluna diagnosticada com TOD [Transtorno de Oposição Desafiador] que interagiu e pintou com uma das artistas. Algo que marcou essa menina e a gente sente que algo muda no ambiente escolar. Os alunos começam a entender o que está sendo pintado ali, porque cada muro reflete um objetivo, ou melhor, cada muro concretiza um dos objetivos”.
Uma construção coletiva que tem tocado a sensibilidade das artistas envolvidas neste processo criativo, como Maria Carolina Ferreira, mais conhecida nas artes visuais por “Da Mataa”. Residente em Dourados, com descendência índigena, a jovem busca atrelar sua experiência artística com a sua formação em gestão ambiental.
“Além da própria pintura que é algo incrível, você deixa um pouco do seu trabalho impresso na rotina escolar, o projeto promove bate papo das artistas com alunos e professores. Falar da minha vivência, do acordo internacional das ODS, é algo muito bacana. As ODS postas ali, é quase uma utopia, falei bastante sobre isso durante a minha roda de conversa. E, claro, do mural que pintei que retrata a segunda ODS ‘Agricultura Sustentável e Fome Zero’, tema que dialoga e muito com minha formação”.
Ao todo, 17 muros serão pintados desde escolas localizadas no centro até a periferia da cidade – o que contempla bairros como Parque do Lageado, Moreninhas, União, Jardim Aeroporto Coophatrabalho, Santo Amaro, Jardim Tijuca, São Francisco, Coophavila, Mata do Jacinto, Itanhangá Park, Estrela do Sul e Nova Lima. Além de outros três muros de espaços públicos da Orla Ferroviária e da Rua Barão do Rio Branco.
Cronograma que tem gerado expectativas entre as artistas selecionadas como é o caso da artista Maria Auxiliadora, pedagoga e indígena da etnia Terena, e da arquiteta e muralista, Natacha IK.
“O projeto tem esse viés igualitário de também buscar artistas indígenas, quilombolas e trans. O muralismo é uma arte em sua maioria masculina e ter esse foco para o feminino dentro do ambiente escolar é algo de grande relevância. Acredito que a minha formação acadêmica me traz uma didática com os alunos, quero sensibilizá-los”, afirma Auxiliadora que anseia trazer no desenho a representatividade dos povos tradicionais. “ Espero que os alunos, indígenas, se sintam representados nesse muro que terá como pano de fundo a ODS ‘Vida Terrestre”‘.
“Faço mestrado em eficiência energética e desenvolvimento sustentável na UFMS e estudo sobre as ODS e os impactos, obviamente, então, é tanta coisa que tenho a dizer que não sei como começar e acho que poder expressar isso com o meu trabalho artístico é um privilégio”, pontua Natacha que vê na vertente feminina do projeto uma forma de potencializar ainda mais o debate das ODS nas escolas. “A importância é humana, porém o projeto dá voz ao feminino. É tipo, ‘vem cá mulher, o que você tem a dizer assim como a natureza que gera, cria e amamenta? Digo de todas as mulheres, porque as trans também sentem isso, e esse sentir é mais humano. Achei fantástico o projeto abrir isso”, avalia a artista que terá a missão de retratar a ODS “Vida na Água”.
Por falar em sensações, outra coisa que o projeto tem literalmente sentido na pele é a onda de calor que, nos últimos dias, tem atingido em cheio as cidades de Mato Grosso do Sul. Questão climática que dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que é a bússola que norteia todo o projeto.
“O nosso cronograma de trabalho começou bem na época da onda de calor. Tem sido um período desafiador, pois em alguns muros a gente tinha sombra e em outros não. Então, tivemos de adaptar os horários de trabalho das artistas porque elas corriam risco de insolação. A Letícia Maidana, por exemplo, optou por chegar na escola às 5h30 da manhã. Já a Maria Chiang está indo à noite porque o colégio tem horário noturno e iluminação. Além, claro, de cuidados com hidratação para toda equipe”, frisa a produtora cultural e coordenadora da Fuá Produções, Julia Basso.
O projeto ainda prevê a criação de um mapa digital com a localização de todos os muros pintados. A ideia é que o circuito sirva para passeios urbanos na Capital.
“Agenda 2030: ODS nos Muros” é fruto da parceria da Fuá Produções com a Mucha Tintas e Bernardo Bravo Produções, ambas produtoras culturais do Estado do Paraná.O projeto conta com financiamento do FIC – Fundo de Investimentos Culturais – da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), do Governo do Estado. Mais informações sobre o projeto acesse o Instagram e Facebook, @fuaproduções ou o site www.fuaproducoes.com.br/.
ODS nos Muros
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma série de metas globais criadas pela ONU para serem alcançadas até o ano de 2030 e assumidas em um acordo assinado por 193 países. O objetivo é colaborar com a qualidade de vida, conservação da biodiversidade e manutenção dos recursos naturais do planeta.
Nesta agenda estão 17 ODS: Erradicação da Pobreza (1); Fome Zero e Agricultura Sustentável (2); Saúde e bem estar (3); Educação de qualidade (4); Igualdade de gênero (5); Água limpa e saneamento (6); Energia Limpa e Acessível (7); Trabalho decente e crescimento econômico (8); Inovação infraestrutura (9); Redução das desigualdades (10); Cidades e comunidades sustentáveis (11); Consumo e produção responsável (12); Ação contra a mudança global do clima (13); Vida na Água (14); Vida Terrestre (15); Paz, justiça e instituições eficazes (16) e Parceria e meios de implementação (17).
Reportagem e fotos: Aline Lira e Lucas Arruda