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26 de abril de 2024 - 03:55

Pioneiros, agentes compartilham experiências de quem vivenciou e contribuiu para a construção de quatro décadas do sistema penitenciário de MS

No mês de janeiro a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) de Mato Grosso do Sul completou 40 anos de existência. A autarquia, inicialmente denominada Departamento do Sistema Penitenciário (DSP), foi instituída em 1º de janeiro de 1979 e de lá para cá muitas histórias foram construídas.

Tudo começou com a custódia de aproximadamente 150 presos e uma equipe de 48 agentes de segurança. Aos poucos, a Agepen foi expandindo e assumindo novas unidades penais da capital e do interior. Hoje administra 43 presídios, distribuídos em 20 cidades do Estado, custodiando mais de 17,7 mil detentos, trabalho desenvolvido por seus cerca de 1.620 servidores.

Nessas quatro décadas de história do sistema prisional, dois servidores acompanharam desde o primeiro dia de serviço até hoje e presenciam toda a transformação da instituição. Formados na primeira turma de agentes penitenciários de Mato Grosso do Sul, Acir Rodrigues e Pedro Carrilho de Arantes permanecem na ativa e dividem com os companheiros de profissão experiências dentro do sistema prisional e as situações que mais marcaram suas vidas.

Com apenas uma semana de curso de formação e muito jovens, ambos ingressaram na carreira antes mesmo de inaugurar o Instituto Penal de Campo Grande (IPCG) – primeiro presídio assumido pela Agepen. Inicialmente, a busca pela atividade era apenas por conta do salário, mas que com o passar do tempo, foram se aperfeiçoando e se apaixonando pelo serviço que fazem até a atualidade.

 

“Trabalhar no sistema penitenciário não é uma profissão, é uma missão realmente. Falo isso por todos esses anos que estive dentro das unidades penais”, conta Acir Rodrigues, atual Diretor de Operações da Agepen.

 

Atuando em cargos de chefias e direção por mais de 20 anos, o agente relembra como era o sistema prisional há 40 anos. Segundo ele, com pouco mais de 150 presos, os plantões no IPCG eram de 24h por 48h. “Era uma rotina tranquila, chegava a ter 25 agentes por plantão e até hoje continuo acreditando no mesmo ideal – da ressocialização. As estatísticas só mostram aqueles que reincidiram, mas não contam os internos que nunca mais voltaram para o presídio, e que de uma forma ou de outra, nós contribuímos para que não retornassem, isso as pesquisas não mostram e é esse trabalho invisível que sempre tive orgulho de realizar”, enfatiza, lembrando que por várias vezes já encontrou nas ruas ex-detentos que o cumprimentaram e que seguiram um rumo diferente na vida. “Evidentemente que hoje o trabalho ficou prejudicado, por conta da superlotação dos presídios”, complementa.

Com 20 anos de idade, o agente Pedro Carrilho de Arantes, hoje chefe de Gabinete, afirma que ingressou no sistema com muita garra e perseverança. “Desde o início sempre tive a honra de assumir cargos de chefias e direção e agradeço muito a Deus pelas oportunidades que a mim foram confiadas”, destaca. Em sua carreira dentro do sistema prisional, já atuou como diretor do extinto Presídio Central – onde atualmente é o Fórum de Campo Grande, além de outras unidades penais como o Instituto Penal, a Penitenciária de Três Lagoas, o Estabelecimento Penal “Jair Ferreira de Carvalho” – o presídio de segurança máxima da capital, a Escola Penitenciária e como diretor de Operações da Agepen.

 

“Eu nunca rejeitei desafios e sempre que necessário me chamavam para ajudar ou contornar alguma situação adversa. No sistema penitenciário sempre aprendemos alguma coisa diferente, todos os dias situações novas se apresentam e precisamos estar em constante aperfeiçoamento”, relata Pedro Carrilho.

 

Ambos compartilham algo em comum, serem pioneiros e dividirem um dos momentos que mais marcaram suas carreiras: a fuga de presos que aconteceu em 1987 no Instituto Penal. Os servidores contam que não existia atuação de facção criminosa no estado naquela época, mas no IPCG tinha o Grêmio Recreativo “Flor de Acácia”, instituído em 1980 pelos internos com a finalidade de coordenar a parte social deles, de esporte e lazer.

Pedro era o diretor da unidade e foi um dos reféns na ação, juntamente com o juiz substituto da Execução Penal e ex-presidente do TJMS, desembargador Divoncir Schreiner Maran. “Não esqueço aquela cena, eu sendo levado até a portaria com uma faca artesanal nas costas e o juiz com uma arma apontada para ele, foi um momento muito tenso para todos nós, jamais imaginávamos aquela situação, pois foram os presos que trabalhavam no Grêmio que nos renderam até a portaria – tínhamos eles como presos de confiança e não esperávamos isso”, recorda Carrilho. “Infelizmente naquele tempo não tínhamos essa bagagem de conhecimento e as ferramentas que hoje temos, como o Sigo e o Siapen; além disso, o perfil da população carcerária também era outro”, complementa.

Pedro Carrilho garante que o principal é sempre trabalhar com justiça e aplicando corretamente a lei. “Não é difícil ser agente penitenciário, basta procurar atualizar as informações e ampliar o conhecimento na área; o lema que sempre carrego comigo é ‘saber é poder’”, orienta.

Quem também ingressou no sistema em 1979, mas na segunda turma de agentes de segurança, e que ainda continua na ativa, é o servidor Valdimir Ayala Castro. Em busca de um emprego fixo, confessa que entrou no sistema penitenciário por melhores perspectivas de salário. “Na época, com 20 anos de idade, fazia vários concursos e provas seletivas para ingressar na carreira policial e quando abriu essa oportunidade não pensei duas vezes, sempre quis atuar na área da segurança pública”, disse.
Atuando em diferentes setores dentro de unidades penais e da Sede administrativa, Valdimir foi consolidando sua carreira e se apaixonando ainda mais pelo que faz. Atualmente é chefe da Divisão de Ações de Segurança e Custódia e comemora o fato de a instituição hoje ser totalmente administrada por agentes penitenciários. Para ele, o principal é trabalhar em equipe, com seriedade, responsabilidade e respeito com o outro.

 

“Quem faz a instituição somos nós mesmos, então temos que fazer constantemente uma autorreflexão sobre nossas atitudes, estar sempre nos aperfeiçoando, atuando de forma integrada e com foco para conquistarmos continuamente melhores condições de trabalho, porque é uma carreira que nos traz muita satisfação pessoal e profissional”, destaca Valdimir.

 

A história do sistema penitenciário do estado também contempla a versatilidade, sutileza e força do trabalho das mulheres. A experiência de quem já vivenciou mais de 36 anos de sistema penitenciário pode virar páginas de um livro, na perspectiva do olhar feminino. É a intenção da servidora Erenia Ramona Mareco, a agente mais antiga que ainda continua trabalhando na Agepen. Ela já atuou em regime de plantão por 25 anos e atualmente é chefe de Disciplina no Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi”, em Campo Grande.

 

“Já vivi de tudo um pouco, já vi morte, tristeza e rebelião, mas já vivenciei momentos bons também dentro do presídio, então muitas histórias me marcaram em todo esse tempo”, afirma Erenia.

 

Mãe de quatro filhos, já passou por três gestações dentro do sistema penitenciário. “Tive muito apoio de todos os colegas e eu era muito bem tratada por eles, inclusive, alguns até já se foram”, conta. Ela relembra, ainda, um dos maiores incentivadores para ela se tornar agente – o irmão. “Ele já trabalhava no sistema e foi quem me motivou a entrar na carreira penitenciária também, surgiu uma vaga feminina no concurso e eu resolvi fazer, na época tinha uma filha de um ano e estava desempregada”, lembra.

Para encarar as adversidades da profissão, assim como em qualquer outra, a servidora deixa uma dica: não leve problemas do dia a dia do serviço para casa.“Sempre encarei assim, minha vida dentro da unidade penal é diferente e quando eu saio daqui eu esqueço totalmente, não levo nada para minha vida pessoal”, comenta Erenia. “O segredo é principalmente trabalhar com amor e garra, e não levar as situações vivenciadas do presídio para sua vida particular. E que novos profissionais possam continuar nossa missão, nosso legado com sucesso”, conclui Erenia que pretende se aposentar este ano.

Para o diretor-presidente da Agepen, Aud de Oliveira Chaves, que também está fazendo história como o primeiro dirigente de carreira da instituição, a experiência e vivência desses agentes penitenciários ao longo dos 40 anos de criação do sistema prisional de Mato Grosso do Sul são exemplos de “paixão e comprometimento com a profissão”. “São muitos os personagens nestas quatro décadas que, assim como eles, trabalharam e trabalham em prol da segurança de toda a sociedade, e que merecem todo o reconhecimento por este importante ofício que desempenham”, agradece Aud.

Diante de todos os relatos, é fácil perceber que  a mensagem que eles deixam para quem está iniciando ou ainda tem um longo período na profissão é que para permanecer na carreira penitenciária tem que gostar muito do que faz e acreditar que aquilo que está realizando possa fazer a diferença. Dos testemunhos de quem participou de toda essa evolução e trilhou sua carreira profissional, a certeza que fica é que ser agente penitenciário vai muito além de abrir e fechar cadeados. Esse profissional representa a esperança de um futuro diferente, agindo como condutor responsável pelas oportunidades capazes de transformar vidas.

Reportagem especial: Tatyane Santinoni.

Edição: Keila Oliveira

Foto Capa: 1ª Turma do Curso de Oficiais Penitenciários de MS.

Fotos: Arquivo Pessoal e Tatyane Santinoni.

 

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