Alunos da extensão de Águas de Miranda da E. E. Bonifácio Camargo Gomes encenaram e produziram vídeo que aborda o impacto das agressões
Um trabalho de estudantes do Ensino Médio da extensão da Escola Estadual Bonifácio Camargo Gomes, no distrito de Águas de Miranda, transformou-se em uma chamada para conscientizar a sociedade sobre o drama da violência doméstica. Produzido e encenado pelos estudantes, o vídeo foi preparado para o projeto Família na Escola e, hoje, é veiculado durante a grade de programação da TVE Cultura.
“Decidimos fazer um dia diferente que, seguindo o calendário escolar, trabalharia o Família na Escola”, explicou Jaqueline Aparecida Lopes, professora e secretária de direção do BCG –como a escola é conhecida. Ela foi a responsável por definir os temas que seriam trabalhados no projeto: estudantes do 1º ao 5º ano do Fundamental abordariam o bullying e o respeito aos colegas; os do 6º ao 9º falariam da violência e dos perigos da internet, “para alertar os pais sobre o que os filhos podem fazer no mundo virtual”.
Já os estudantes do Ensino Médio ficaram incumbidos de abordar a violência doméstica e o feminicídio que, em março deste ano, foi tema de discussões sobre uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que aumenta as penas dos autores.
“Somos uma comunidade pequena, com pouco policiamento e as mulheres sem acesso a muitas informações. Então, pensamos que seria positivo a escola ser o centro de levar essas informações para os pais, mães e alunos se conscientizarem sobre uma realidade que, infelizmente, é tão comum”, disse ela.
Enquanto os estudantes do 1º ano do Ensino Médio fizeram leituras sobre os contextos e as leis, os alunos do 2º produziram uma apresentação teatral sobre o tema. “Para o 3º, levamos a proposta de que fizessem um vídeo. Os professores trabalharam os temas em sala, apresentando todas as informações possíveis, e deixamos os alunos à vontade para criar”, explicou Jaqueline.
O resultado final foi interpretado pelas alunas Mariely, Alícia, Amanda e Tailiene, com roteiro e edição do também estudante Lucas Henrique. “Como as gravações foram feitas à noite, e não tem transporte, contamos com colegas de outras turmas”, emendou a professora.
No vídeo, em uma narrativa densa, as alunas falam sobre agressões verbais, emocionais e físicas de companheiros às mulheres, reforçando a importância de se denunciar tais casos ao 180 –veja o material ao final deste texto.
A gravação, após ser apresentada na escola, circulou redes sociais. E, recentemente, voltou a ser veiculado, em meio ao encontro das mulheres da comunidade de Águas de Miranda com o grupo Mães de Bonito.
“Decidimos não deixar o tema morrer e, como foi um encontro de mulheres, trouxemos o Ensino Médio para novas apresentações, com um coral, e exibimos de novo o vídeo. Foi quando houve a visibilidade maior”, explicou Jaqueline. “Achamos importante não só dar visibilidade ao trabalho dos alunos que fizeram tudo isso sozinhos, mas também pelo tema, que é importante e vem acontecendo cada vez mais. Trazer isso dito pela palavra dos adolescentes, crianças e jovens se preparando para a vida, é muito importante”.
Repercussão e exibição
O resultado, frisou ela, pode ser sentido até hoje. “As reações foram as melhores. Houve pessoas que choraram durante a divulgação. Os alunos estavam tímidos, mas orgulhosos, assim como nós, professores temos um orgulho fora de série. Foi um trabalho feito. Oferecemos o básico no ensino regular e eles estão indo além, buscando mais”, complementou Jaqueline, reiterando que o material continua a ser compartilhado por meio de redes sociais e celulares.
O material chegou ao conhecimento da direção da Fertel (Fundação Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa) que, ao avalia-lo, considerou que a exibição seria positiva. “É algo que merece os parabéns à escola, aos professores e, principalmente, os alunos do BCG. Os estudantes mostraram sensibilidade e tratam de forma série um tema que precisa ser constantemente escancarado. A violência é inaceitável, a agressão contra as mulheres, mães, filhas, é intolerável”, afirmou o diretor-presidente da instituição, Bosco Martins.
O vídeo passou a ser exibido em intervalos da TVE Cultura, “como uma forma de valorizarmos o trabalho desses jovens e cumprirmos nosso dever social de reforçar o enfrentamento à violência doméstica e ao feminicídio”, complementou Bosco.