O apagão da TV analógica, o ingresso das emissoras públicas no mundo digital e a já anunciada chegada da Ultra Definição (UHD) imediatamente após o “switch-off, além dos desafios do alinhamento das novas tecnologias e plataformas multimídias, foram discutidos nessa semana pelos dirigentes e funcionários da Rádio e TV Educativa (RTVE).
O diretor-presidente das emissoras do Estado, jornalista Bosco Martins, fez palestra e repassou as informações que obteve em encontros no Paraná e São Paulo. “Estamos apenas iniciando a migração para o sistema digital e já nos colocamos diante de tecnologias que tornam equipamentos modernos obsoletos, porque ao lado da evolução tecnológica vivenciamos mudanças no comportamento e na forma de consumo dos conteúdos. São desafios que interferem também na linguagem da comunicação e transmissão da informação”, disse Bosco Martins. Segundo ele, são duas adaptações em curso, a tecnológica e a conceitual.
“A produção de conteúdos, seja de notícia, documentário ou programas de entretenimento e educativo, tem que atender aos formatos que permitam acessibilidade, portabilidade e interatividade. Há cumplicidade no protagonismo da comunicação, essa é a grande revolução. O público não apenas consome, mas também opina, pondera e contesta”.
A RTVE e emissoras públicas de 11 estados debateram em São Paulo a Nova Televisão Brasileira diante do apagão do sistema analógico, era digital e as novas ferramentas da plataforma multimídia em fórum paralelo à maior feira de negócios e tecnologia para “broadcast e new media” da América Latina, promovida pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET).
“O que se extrai dessa discussão toda é que há que se ter muita cautela nas licitações e realizar estudo de engenharia, até porque os novos equipamentos são mais compactos e a produção deve ser customizada. É um processo de etapas, nada vai mudar da noite para o dia”.
Inovação
Segundo Bosco Martins, a digitalização deve passar pela customização e inovação”. Nesse aspecto, a RTVE, embora na fase de planejamento do processo de digitalização, já migrou seus sistemas para o plataforma multimídia, através do Portal da Educativa, onde estará disponibilizado todo acervo das emissoras do Estado.
Dentro do processo de reprogramação das grades da RTVE, a ideia é buscar parcerias para diversificação do conteúdo, com alcance em todos os segmentos, daí a opção por uma programação eclética. No segmento educativo-cultural, acordos de cooperação mútua com universidades vão garantir a ampliação das opções, por meio de um multicanal. No fórum que debateu a nova televisão, foi lançada também a ideia de um sistema de emissoras intragov, reunindo todas as emissoras educativas, comunitárias e universitárias.
Bosco Martins acredita que o processo de migração de sistemas deve levar em conta o aspecto mercadológico. “Na era digital é importante a porta do controle de qualidade de conteúdo e para as emissoras públicas, que exercem papel de curadoria, é importante enriquecer com a oferta de emissoras parceiras. Por orientação do governador Reinaldo Azambuja já estamos buscando a qualidade e diversificação do conteúdo, somando a produção própria com o conteúdo autoral independente”.
Plataforma multimídia
Para o diretor-presidente a RTVE, as emissoras públicas se deparam ainda com o desafio da convergência de conteúdos das mídias eletrônicas (rádio e TV), novas mídias (internet, aplicativos, portais, games, sites e mídias sociais) e start-ups da área de comunicação e tecnologia.
“Há muitos projetos, serviços e produtos no mercado de tecnologia e difusão que eram apenas opcionais. Hoje, com a nova televisão brasileira, os projetos são praticamente obrigatórios e trazem uma contribuição grande para o aperfeiçoamento e a necessária adaptação à plataforma multimídia”.
“A informação ou o conteúdo de serviço e entretenimento deve ser produzido para o mercado áudio visual full HD, centrado nas novas tecnologias e formatos display. Estamos diante de uma tendência irreversível, de novos comportamentos e formas de consumo de televisão e conteúdo multimídia”, destaca Bosco Martins.
Para as pessoas que usam aparelhos de TV, as soluções são apresentadas a todo momento, mas o público quer mais, novos formatos de display e aplicativos de smartTV. “É esperado que os aparelhos de televisão do futuro sejam apenas uma grande tela de alta resolução onde devem ser conectados os mais diversos dispositivos. Set-top box vai muito além da recepção de sinais de televisão terrestre integrando serviços diferenciados que tornem este dispositivo uma grande central de multimídia conectada a estes displays.”
Canais de serviço
Reportando-se a proposta da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), da qual da RTVE e parceira e compartilha conteúdo, Bosco Martins lembrou da importância da oferta de conteúdos 4D, uma vez que os set-top box deverão atuar como canais de convergência e diversos serviços.
Para Bosco Martins, “estamos diante de um processo irreversível no uso diverso dos receptores de TV e os dispositivos móveis, cada vez mais voltados para a necessidade e demandas do usuário, principalmente da nova geração, os chamados “nativos digitais”, que não cultiva o hábito de uso do televisor. Nosso desafio se resume em buscar a melhor e mais eficaz forma de transmitir conteúdos.
“Nesse aspecto poucas coisas estão definidas e atendidas”, conclui Bosco Martins, para quem o desligamento da TV analógica pode ocorrer muito depois do previsto, pois é preciso informar bem a população, demonstrar claramente quais são as mudanças e assegurar que pelo menos 80% da população disponhamde televisores e acessórios prontos para consumir conteúdo com transmissão UHD.
(Fotos: Rogério Medeiros)