Uma das grandes sacadas dos organizadores do Festival América do Sul, se tornando a marca de um evento internacional que busca a integração dos povos e celebrar a diversidade cultural dessa fronteira, o Quebra Torto com Letras continua sendo uma das atividades mais concorridas – e deliciosas. Pode-se, assim dizer, que o encontro de artistas, poetas, escritores e contadores de história com final de degustação da culinária pantaneira é a essência do festival.
“O Quebra Torto consegue reunir todo o clima dessa festa da nossa cultura”, sintetiza o secretário estadual de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação (Sectei), Renato Roscoe, que voltou na manhã deste domingo ao Moinho Cultural para mais uma atividade do tradicional evento. “Aqui se exprime e se mostra poeticamente como é essa cultura local tão influenciada pelos navegantes desses rios pantaneiros e platinos”, acrescenta. “Uma poesia de alto nível para uma culinária também de alto nível”, completa.
Público fiel
Nome da primeira refeição do homem pantaneiro na sua lida do campo e nas extasiadas viagens no lombo do cavalo por vários para tocar as boiadas até as grandes invernadas do planalto, o quebra torto resume o que representa o festival, segundo o secretário. “O Fasp não é apenas música, ou teatro ou circuitos circenses, e o Quebra Torto com Letras é bem isso, atraindo um grande público em um domingo de manhã para ouvir poesia”, diz o secretário.
De fato, o evento é também sucesso de público – sempre foi em todas suas edições -, com a participação de grandes expressões da literatura brasileira e regional. Neste domingo, a estrutura montada no pátio do Moinho Cultural Sul Americano – escola que ensina música, balé e cidadania para crianças brasileiras e bolivianas -, atraiu centenas de jovens e adultos para discutir o tema “o reino das palavras: poesia em todas as pessoas”.
O respiro
Presentes os convidados Emmanuel Marinho, poeta e ator, considerado uma das referências culturais de Mato Grosso do Sul; o premiado jornalista e poeta Bruno Molinero (SP) e o poeta, letrista e escritor carioca Mauro Santana, com abertura em ritmo de samba com o Quarteto do Choro, formado por instrumentistas de Corumbá. Ao final, a plateia deliciou-se das iguarias pantaneiras – arroz carreteiro, macarrão com carne seca, doces caseiros, bolos, sopa paraguaia… -, preparadas pela culinarista Lídia Leite.
“O Quebra Torto com letas é a essência verdadeira desse festival, onde a gastronomia também se apresenta com sabores dessa mistura latina que é Mato Grosso do Sul”, observa a diretora do Moinho Cultural, Márcia Rolon, também coreógrafa e bailarina. “O Quebra Torto é o respiro, resume tudo que é festival, exceto o cinema, com a presença de poetas de grande expressão e um público sempre fiel.”
Mesa farta sendo preparada e, ao fundo, público e poetasbrincam e se interagem com as letras
O que é
O isolamento da região e a escassez de alimentos durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) contribuíram para surgir alguns pratos típicos no Pantanal, dentre os quais o quebra-torto, comida reforçada dos peões e hoje comum nas fazendas, servida geralmente entre 4h e 5h da manhã, e também é muito apreciado pelos urbanos e turistas que visitam a região. É um desjejum que também inclui peixe, miúdos, ovos, leite caipira.
Texto e fotos – Sílvio Andrade