Lucimara Maria de Souza Martins, supervisora da Divisão de Ações Pragmáticas e Estratégicas de Atenção Básica, apontou na Educativa 104.7 FM meios de identificar problemas que induzem os mais jovens a atentar contra a própria vida
Durante o Setembro Amarelo, as administrações públicas reúnem esforços para promover o enfrentamento aos suicídios em diferentes formas. No Brasil, onde 32 brasileiros dão fim à própria vida por dia (causando mais mortes, por exemplo, que a AIDS), esta já é a quarta maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, conforme dados da campanha. E, diante do crescimento dos casos também entre crianças e adolescentes, o Bom Dia Campo Grande entrevistou nesta terça-feira (10) a psicóloga Lucimara Maria de Souza Martins, supervisora da Divisão de Ações Pragmáticas e Estratégicas da Atenção Básica da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde).
Lucimara também falou à Educativa 104.7 FM sobre o segundo colóquio “Debates atuais sobre saúde mental e prevenção ao suicídio infanto-juvenil”, que a Prefeitura da Capital realiza nesta quarta-feira (11), das 13h às 17h30, no auditório da Uniderp, com entrada franca para todos os interessados e que visa a discutir novas abordagens e ações estratégicas de prevenção ao suicídio nessa faixa etária da população.
“Tem aumentado muito as tentativas de suicídio entre crianças e adolescentes. Nossos números e as notificações de violência provam isso e a prefeitura, por meio das secretarias, está bastante preocupada com o tema. É preciso falar disso, divulgar para a sociedade e fazer um enfrentamento do suicídio por meio de ações intersetoriais”, disse a psicóloga. O colóquio, organizado pela Subsecretaria de Direitos Humanos, conta com participação da Sesau para que sejam apresentados ali dados, números e, principalmente, as ações de combate ao suicídio atualmente realizadas.
Lucimara confirmou um crescimento ano a ano do número de casos de suicídio e de tentativas entre crianças e adolescentes. O problema, destacou ela, pode ter raízes profundas, muitas vezes dentro da própria família, “que tanto pode ser um fator de proteção como de risco”. Segundo ela, os núcleos familiares não têm conseguido fazer um manejo adequado das dificuldades apresentadas pelos menores, muitas vezes por conta de uma relação ruim em casa.
“Isso pode ser um fator de risco sim, as relações conflituosas, as famílias desestruturadas”, considerou. “A terceirização do afeto e do cuidado podem contribuir, sim, e agravar sinais e sintomas para que essa criança e adolescente querer realmente não estar mais nessa situação, buscando alternativas que não sejam as mais viáveis e saudáveis, justamente porque, nessas fases da vida, ainda não se têm a estrutura psíquica adequada para lidar com os problemas da vida”.
Por esse motivo, destacou a psicóloga, o trabalho de apoio costuma envolver o núcleo familiar a fim de corrigir os comportamentos viciosos.
“Sintomas”
Lucimara salientou que a depressão e outros transtornos mentais são fatores de risco para os suicídios e atentados à própria vida. Ela apontou outros sinais que podem indicar que a criança ou adolescente enfrenta indícios de depressão.
“Sinais de tristeza e de isolamento, de não querer se comunicar ou fazer isso dizendo que não quer mais ficar aqui, de que quer sair, ir embora. De quer morrer mesmo, dormir e não acordar mais. Todas essas falas são para chamar a atenção e que representam um sofrimento interno. É preciso escutar essas falas e acolher as demandas, seja a família, a escola com o professor, um familiar ou um amigo. Todos precisamos estar atentos quando crianças, adolescentes ou adultos falam da insatisfação com a vida e do desejo de não estar mais aqui entre os presentes, porque está havendo um sofrimento psíquico. É preciso atentar a isso e buscar ajuda profissional para lidar com isso e sair dessa situação”, afirmou.
Outro alerta é para que pais e responsáveis monitorem o que os jovens veem ou como se relacionam com o mundo exterior, incluindo aí as mídias sociais. Lucimara salienta ser importante impor limites e acompanhamento, mas que, acima de tudo, demonstre-se o afeto por meio de um diálogo não agressivo e compreensivo.
Cobrança
O “excesso de positividade” na vida atual também merece atenção: o volume de cobranças para que as pessoas tenham sucesso, sejam bonitas e figurem bem na foto, sob iminência do fracasso. “É preciso fazer desde muito cedo o manejo disso com nossas crianças, para que cresçam dentro e um ambiente onde se sintam seguras emocionalmente, fortalecidas, e não estejam tão vulneráveis a situações e pressões do mundo moderno e mídia social”.
Lucimara reforça o papel da família nesse momento, “para que a criança cresça com limites, mas com segurança emocional”, especialmente nos primeiros anos de vida, “que vão marcar o desenvolvimento saudável, por isso é muito importante que a gente oriente, aconselhe, trabalhe com famílias para que sejam assertivas, adequadas para o desenvolvimento do ser humano”.
Ao se identificar as situações de sofrimento, a psicóloga recomenda que se acolha a demanda sem julgamentos, buscando-se compreender o sofrimento da pessoa e, a partir daí, o que a levou a se sentir daquela forma.
“E através dessa identificação deve-se buscar, com o indivíduo, elementos dlee mesmo que possam superar e trazer para sua vida a positividade que ele não tem. Há um excesso de positividade que a sociedade exige mas ele não guarda dentro de si. É preciso demonstrar o que ele não descobriu, que tem elementos positivos de valor para a própria vida e de outros. Precisamos identificar o porquê de ele não ter esses valores, o porquê de não se sentir digno de viver e fazer o manejo para que supere isso e passe a se ver como alguém que merece a vida”.
Ações
A Divisão de Ações Pragmáticas e Estratégicas da Atenção Básica da Sesau mantém um serviço no Centro de Atendimento Especializado focado no apoio a crianças e adolescentes que tentaram o suicídio ou foram vítimas de violência sexual. Há 11 psicólogos prestando suporte aos sábados a pessoas entre 0 e 19 anos. O encaminhamento ao serviço é obtido nas unidades de saúde pública mais próximas, que providenciarão o agendamento.
“Temos, em algumas unidades de saúde, o Nasf (Núcleo Ampliado de Saúde da Família), onde há psicólogos que fazem o manejo dos casos na atenção primária. Onde não houver, porque não há cobertura em toda a rede, as unidades avaliam, acompanham e encaminham”.
Lucimara também destacou que os casos de suicídios costumam envolver mais homens, “que usam meios mais letais, que vão de fato levar ao suicídio”, enquanto as mulheres, costumeiramente, valem-se de “meios mais amenos, que acabam ficando na estatística da tentativa de suicídio” –fato atribuído, por exemplo, à natureza menos agressiva delas.
A supervisora finalizou a entrevista convidando toda a população a participar do colóquio na Uniderp, onde serão discutidos dados sobre suicídio e apresentados os serviços que integram a rede integrada de atendimento à criança e adolescente.
Sintonize – Com produção de Rose Rodrigues e Alisson Ishy e apresentação de Maristela Cantadori e Anderson Barão, o Bom Dia Campo Grande permite a você começar o seu dia sempre bem informado, por meio de um noticiário completo, blocos temáticos e entrevistas sobre assuntos variados. O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h30, na Educativa 104.7 FM e pelo Portal da Educativa. Os ouvintes podem participar enviando perguntas, sugestões e comentários pelo WhatsApp (67) 99333-1047 ou pelo e-mail reporter104fm@gmail.com.