Psicólogo, o agente penitenciário Kenzo Mochizuke falou no Bom Dia Campo Grande sobre o projeto Por Respeito à Igualdade, que visa a combater a reincidência em casos de violência doméstica
Realizado no Centro de Triagem Anizio Lima, em Campo Grande, o projeto “Por Respeito à Igualdade” tem por objetivo permitir a reflexão e gerar ações preventivas junto a agressores presos por conta da Lei Maria da Penha. Idealizador da iniciativa, o agente penitenciário e psicólogo Kenzo Corrêa Mochizuke concedeu entrevista ao Bom Dia Campo Grande desta terça-feira (22) para detalhar a ação, desenvolvida tendo em foco o fato de que quase 1 em cada 5 homens encarcerados no local foram sentenciados a cumprir pena por violência doméstica e familiar em regime fechado.
“Hoje em dia, de acordo com dados do Mapa Carcerário da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), há 667 custodiados em Mato Grosso do Sul, e 19,5% da massa carcerária do Centro de Triagem é por crimes de violência doméstica e familiar contra a mulher”, explicou Kenzo à Educativa 104.7 FM. Ele reiterou que, com o trabalho, espera-se reduzir a reincidência de casos, uma vez que, ao serem liberados, os homens voltam ao núcleo familiar –se não para reatar o casamento, para manter a convivência com os filhos.
“Partimos do princípio, na reclusão, de que a reprimenda corporal não dá garantias de mudança de comportamento. E que a educação e a reflexão no momento são a melhor maneira de conseguirmos resultados no combate à violência contra a mulher”, prosseguiu. Ele explica que o trabalho se assemelha a um grupo reflexivo –não se assemelhando a um trabalho terapêutico por ser aberto. Os ciclos são formados por dez encontros por reeducando, permitindo novas adesões a qualquer momento.
Os resultados, frisou o agente penitenciário, são vistos com bons olhos. “Conseguimos colher frutos na questão de disseminação, entre os próprios participantes na unidade penal, do aprendizado com outros internos. Vemos uma mudança de postura deles, enquanto muitos veem como uma oportunidade de mudança”, afirmou Kenzo. “No decorrer dos encontros acontece o amadurecimento dos participantes. A troca de experiências na fala deles é importante e rica. Com o andamento do grupo, eles vão se sentindo encorajados a falar dessa questões”.
As dinâmicas ocorrem em torno dos temas Infância e Juventude, Comportamento Assertivo, Tipos de Violência, Origem da Violência, Tolerância e Frustração. Durante os trabalhos, buscam-se também verificar a origem da violência, uma “questão subjetiva”, como salientou o psicólogo, já que muitos homens também foram vítimas em sua casa quando crianças e acabam replicando o comportamento. “Temos o intuito de fazer a reconfiguração dessa infância, um trabalho de reconstrução, digamos assim”.
Origens
Kenzo Mochizuke sustenta que é por meio do aprendizado que é possível obter a mudança de postura. Mas o problema pode não se originar apenas do passado: sentimentos como frustração, segundo ele, surgem de “questões culturais” como o machismo ou a masculinidade tóxica, na qual muitos homens não conseguem reconhecer o sucesso das mulheres ou, pior ainda, tratando-as como uma posse que deve se sujeitar às suas vontades.
“Quando falamos em tolerância e frustração tratamos de um dos males da contemporaneidade: a de que ‘não é não’, de que ele não é dono do mundo e nem daquela mulher. Temos de trabalhar isso, fazê-lo entender que não pode agir como tal, como se a tolerância e frustração fossem ligadas a isso. Muitos homens se frustram e desencadeiam a agressividade por não entender que esse sentimento é necessário”.
Ele afirma que não é a primeira vez que o tema é tratado no sistema prisional, porém, o projeto surgiu de observações feitas no grupo Dialogando Igualdades, da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.
“A Coordenadoria e o projeto trabalham com praticantes encaminhados pelo sistema judiciário. Fizemos o projeto para trabalhar com os reclusos. Trata-se de um estudo longitudinal de caráter experimental, voltado ao perfil do sistema penitenciário. Como não havia muitas referências, optou-se por este tipo de projeto. Em setembro do ano que vem vamos encerrar e fazer um levantamento sobre o índice de reincidência”, explicou. A medida será adotada porque a custódia por violência doméstica costuma ser por curtos períodos.
O psicólogo defende a abordagem direcionada e sob monitoria. “Uma coisa é eles conversarem aleatoriamente em um pavilhão. Outra é um trabalho voltado para a mudança de comportamento”, justifica.
Sintonize – Com produção de Daniela Benante, Eliane Costa e Alisson Ishy, reportagens de Daniela Nahas, Zilda Vieira, Katiuscia Fernandes, Bernardo Quartin e Gildo Pereira, apresentação de Maristela Cantadori e Anderson Barão, coordenação e edição de Rose Rodrigues e apoio técnico de Roberto Torminn e do DJ juju, o Bom Dia Campo Grande permite a você começar o seu dia sempre bem informado, por meio de um noticiário completo, blocos temáticos e entrevistas sobre assuntos variados.
O programa vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h30, na Educativa 104.7 FM, pelo Portal da Educativa e pelo aplicativo RadiosNet Os ouvintes podem participar enviando perguntas, sugestões e comentários pelo WhatsApp (67) 99333-1047 ou pelo e-mail reporter104fm@gmail.com.