Sempre é admirável quando alguém se dispõe a ajudar outras pessoas, de forma gratuita e voluntária. Afinal de contas – salvo algumas situações definidas em lei – ninguém tem a obrigação de trabalhar gratuitamente para outras pessoas.
Mais admirável é quando essa mesma pessoa se dispõe a ajudar moradores do Pantanal, pois a vida da comunidade ribeirinha pantaneira é muito difícil: além do acesso limitado às facilidades da vida moderna geralmente comuns à rotina das cidades – tais como energia elétrica, comunicação, compra de alimentos, remédios e combustível – as pessoas que vivem no Pantanal Sul-Matogrossense dificilmente dispõe de serviços simples, como o corte de cabelo, por exemplo.
Maria Zulmi Ribeiro (65) tem 33 anos de profissão. Em sua carreira profissional, ela trabalhou por cerca de 18 anos em uma barbearia da cidade. De acordo com a cabeleireira, ela tem total apoio da sua família:
Eles me apoiam totalmente, pois sabem que eu sou muito ativa. Espero chegar aos 90 anos de idade e continuar trabalhando no projeto. Eu sou ligada na tomada, igual minhas máquinas –diverte-se
Trabalho Voluntário
Segundo Maria, ela tinha vontade de fazer parte do projeto, pois achava a proposta muito interessante:
“Eu sempre ouvia falar do projeto, até que um dia eu fui convidada pela Dona Beatriz (Beatriz Cavassa, Secretária da Cidadania e Direitos Humanos) que já conhecia o meu trabalho e o meu envolvimento em ações sociais. Quando eu recebi esse convite eu vim, mas não achei que fosse tão prazeroso. Estarei sempre disposta a vir”.
E completa:
“Vivenciar o que é feito por aqui, me deixou muito satisfeita. Nós sabemos o que é feito na cidade, e os ribeirinhos têm necessidades muito maiores, eles estão distantes de tudo e de todos – só vendo para ter essa noção”
E cortar cabelo no Pantanal não é fácil: Maria precisa de energia elétrica para que suas máquinas de corte funcionem:
“Nem sempre temos energia elétrica disponível nos lugares que vamos. Por sorte levamos um gerador junto – pois assim eu posso atender a maior quantidade de pessoas que eu puder”.
A cabeleireira relata um dado curioso: praticamente todos os seus “clientes” pantaneiros são homens adultos. Ela relata que mulheres e crianças cortam o cabelo muito pouco:
“Geralmente eu começo cortando o cabelo de uma ou outra criança – aí parece que eles ficam observando se a pessoa corta bem o cabelo, e depois eles começam a chegar. Poucas mulheres cortaram cabelo comigo, elas mantém seus cabelos compridos, quase intocáveis”.
Segundo Maria, a distância é o principal obstáculo do ribeirinho:
“Vocês não tem noção do trabalho que é para eles, comprar arroz ou óleo, por exemplo. Imagine então, cuidar da aparência”
Ubiracy Vieira de Arruda (52) é um dos moradores da comunidade do Corixão que esteve presente na ação do Povo das Águas do mês de Setembro – em Porto Buritizal – e resolveu dar um trato no visual, com Dona Maria – que está trabalhando gratuitamente oferecendo cortes de cabelo para a comunidade ribeirinha visitada pelo Programa :
“É bom porque a gente fica mais bonito, isso é bom, né?”
O pantaneiro nasceu e foi criado na comunidade – e hoje cuida dos seus pais, que ainda vivem na região.
Contando com seu Ubiracy, Dona Maria realizou durante toda a ação cerca de 142 cortes de cabelo em cinco dias. Um número que muitos profissionais trabalhando na área urbana não conseguem atingir, um número impressionante – e tendo em vista as condições de trabalho oferecidas.
Questionada sobre a sua eficiência ( uma média de 28 cortes de cabelo por dia da ação ) e trabalhando fora do conforto e do ar-condicionado de um salão de beleza, a sexagenária cabeleireira respondeu:
“Foi tão prazeroso e divertido que nem vi o tempo passar.”
Fonte: correiodamanha.com.br