Num cenário sem iluminação especial, com apenas instrumentos musicais, Maria Bethania iluminou o palco do Centrosul, em Florianópolis, no dia dois de dezembro. Acompanhada por uma banda afinada e com um repertório impecável, ela confirmou mais uma vez que é a diva da musica brasileira da atualidade, ao completar 52 anos de carreira e mais de 70 de idade cronológica. Em mais de uma hora de um verdadeiro show, Bethania interpretou algumas canções conhecidas e outras nem tanto, declamou poemas e encantou a platéia de mais de duas mil pessoas.
Sem nenhum minuto de atraso. O show começou impecavelmente às 22 horas, Bethania tem um verdadeiro ritual antes de entrar no palco. Chegou três horas antes e cumpriu a tradição que é parar, respirar e rezar. Sua única exigência é de que o camarim seja próximo ao palco, sem muitos obstáculos para que possa caminhar com segurança e trocar o figurino durante o show. Em Florianópolis ela trocou de roupa uma vez.
Com um figurino exuberante e os longos cabelos grisalhos, ela usa todo o seu corpo de forma teatral, seduzindo a platéia, que veio várias vezes ao delírio. Uma platéia eclética na faixa etária e na origem. Muita gente se deslocou de longe para assistir ao show, com pessoas de Goiás, São Paulo e até de Mato Grosso do Sul. A cada música mais conhecida, os gritos ecoavam no Centrosul, com demonstrações de emoção, com palavras como “Linda”, “Maravilhosa” e ela sempre respondia com agradecimentos ou sorrisos.
Um dos momentos mais emocionantes da apresentação de Maria Bethania aconteceu ao interpretar o “Frevo número 2 do Recife”, onde ela se rendeu à saudade e homenageou o amigo Naná Vasconcelos, músico percussionista, que faleceu em 2016. Alguns minutos depois ela não esqueceu de ninguém e saudou artistas já falecidos e lembrou praticamente todos os seus compositores, incluindo seu irmão Caetano Veloso , o grande poeta Vinicius de Moraes e Dorival Caymmi, que para ela é quem melhor retrata a Bahia.
A cantora também interpretou algumas canções clássicas e até hits sertanejos, como “Negue” (Adelino Moreira/Enzo de Almeida Passos), “É o Amor” (Zezé de Camargo/Chico Amado/Dedé Badaró), “Olhos nos Olhos” (Chico Buarque), “Começaria Tudo Outra Vez” e “Explode Coração” (de Gonzaguinha) e “Fera Ferida” (Roberto Carlos/Erasmo Carlos). Outro grande momento ocorreu quando entoou “Non, Je ne Regrette Rien” (Charles Dumont e Michael Vaucaire). Na banda que a acompanhou estavam Jorge Helder (contrabaixo), Túlio Mourão (piano), Paulo Dafilim (violas e violão), Pedro Franco (violão, bandolim e guitarra), Marcio Mallard (cello), Carlos César (bateria) e Marcelo Costa (percussão).
Fora do palco, Maria Bethania falou com jornalistas e se declarou uma artista livre. “ Cantar é a coisa de que mais gosto.São 52 anos pisando no palco, graças a Deus”. “Gosto de cantar o que eu estou vivendo, o que estou sentindo, gosto de ser livre”, disse. Ela também fez questão de enfatizar que está muito triste com o Brasil, mas que não perde a esperança.
Texto: Rose Rodrigues
Fotos: Graça Mougenot