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12 de dezembro de 2024 - 09:51

Memória cultural: UEMS abre ao público o “Acervo Maria da Glória Sá Rosa”

Campo Grande (MS) – A UEMS (Universidade do Estado de Mato Grosso do Sul) abre ao público nesta terça-feira, 19, o “Acervo Maria da Glória Sá Rosa” (1927-2016). Arquivos que dão a dimensão da diversidade e compreensão da identidade cultural de Mato Grosso do Sul, foram doados à universidade pelos filhos de Glorinha, como era conhecida. São cerca de quatro mil itens, mais três mil livros, volumes raros, diários pessoais, fotos de viagens e material iconográfico de áudio e de vídeos em VHF que ainda vão passar por processo de digitalização.

A doação, devidamente registrada em cartório, contou com a colaboração da professora Aline Saddi Chaves, Coordenadora do NEL (Núcleo de Ensino de Línguas) que além de intermediar o processo junto à família de Sá Rosa, viabilizou a restauração de alguns equipamentos e mobiliários da sala de estar da professora, através do apoio financeiro dos alunos  – externos –  do curso de línguas.

Trabalho árduo e colaboração de alunos – Foram dois anos de intenso trabalho, realizado pelo Grupo de Pesquisa da Literatura, História e Sociedade, liderado pelos professores doutores Daniel Abrão e Volmir Cardoso Pereira e pelo NEBA, Núcleo de Estudos Bakhtinianos. No início o grupo contava com a ajuda de dois alunos do curso de Letras, mas ao longo do tempo outros alunos se juntaram a essas pessoas com a missão catalogar o acervo e fazer a limpeza dos volumes, etapas que fazem parte da instauração do acervo.

O professor, Daniel Abrão coletou pessoalmente todo o material do Acervo Maria da Glória da Rosa com mais de 3.000 livros

A sala será um espaço de pesquisa, disponível para o público interno e externo da UEMS. O professor Daniel, que fez a remoção dos livros pessoalmente, as pessoas poderão consultar uma expressiva coleção de livros raros, clássicos da literatura (muitos na língua original) francesa, espanhola, italiana e inglesa, além de extensa biblioteca exclusiva de autores regionais, livros de arte, história, filosofia e mapas cartográficos que datam de 1919.

No acervo da professora a UEMS conseguiu recuperar parte do mobiliário da sala de trabalho da professora

Maria da Glória Sá Rosa foi umas das principais professoras de Campo Grande. Pioneira no ensino, formou uma geração de intelectuais em todo o Estado. Dentre as importantes ações em prol da cultura do Estado, Glorinha lecionou nas Universidades Fucmt, hoje UCDB, e UFMS, fundou a Aliança Francesa em Campo Grande, foi membro atuante da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, onde ocupava há 44 anos a cadeira de número 19. Como escritora se tornou referência em relatar a história da cultura do Estado e teve cerca de 12 livros publicados. Recebeu o cobiçado título de Doutora Honoris Causa, outorgado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Professora Honorária pela UNIGRAN de Dourados.

“Este é um momento importante para a Cultura do Estado, o que reforça a importância da UEMS na sociedade, além de ser uma ação que dá um suporte bibliográfico robusto aos Cursos de Letras e demais Cursos da Unidade de Campo Grande”, explica o professor Daniel. Segundo ele, Maria da Glória cruza a história e a memória cultural do Estado. “Não há como falar em curso de Letras sem passar pelo nome dela”, destaca.

Os livros preferidos de Glorinha – Quem for pesquisar, ou conhecer, a Sala Maria da Glória Sá Rosa, vai perceber algumas de suas preferências literárias pelas publicações completas de autores como Carlos Drumond de Andrade, Guimarães Rosa, Jorge Luiz Borges, Proust e Manoel de Barros. Também chama a atenção as publicações dos escritores da geração conhecida como “Beatniks”, que fizeram parte de um movimento sociocultural norte-americano nos anos 1950, que propagava um estilo de vida antimaterialista. Deles, destacam-se obras de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William S. Burroughs. Sinal claro do quanto Maria da Glória, além de culta, era uma mulher contemporânea que acompanhava todos os movimentos culturais ao redor do mundo.

O trabalho de resgate de todo o acervo da professora, no entanto, ainda não acabou. O processo, segundo o coordenador Daniel Abrão, é demorado e minucioso. Segundo ele, ao longo dos anos os livros acumulam fungos que deterioram as páginas. Por isto, além da limpeza já feita, é importante fazer um trabalho de higienização por dentro. “Mas para isto vamos precisar de verbas”, salientou. Felizmente o próximo passo já está garantido: futuramente o acervo será disponibilizado virtualmente através de site exclusivo. “Se não recuperamos acervos importantes como da professora Maria da Glória a memória acaba se diluindo”, finaliza.

Thereza Hilcar – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Fotos: Eduardo Coutinho

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