Esse projeto, coordenado pelo professor Wagner Corsino Enedino (CPTL) quer, na prática, analisar peças do teatro brasileiro contemporâneo, letras de músicas brasileiras e películas cinematográficas que dialogam com a Literatura nacional e estrangeira.
Toda a análise será desenvolvida por meio de leituras de textos teóricos e críticos, fichamentos, levantamentos de dados teóricos e de fortuna crítica no que tange a peças teatrais brasileiras, letras de músicas e filmes nacionais e internacionais, dados biográficos dos seus respectivos produtores, os quais podem revelar aspectos de suas condições de produção artística.
Para isso, o professor tem em sua base de estudo a Literatura Comparada “vista como espaço reflexivo privilegiado para a tomada de consciência da natureza múltipla (histórica, teórica e cultural) do fenômeno literário, à medida que se posta como multidisciplinar, interdiscursiva e intersemiótica”, diz.
Uma das tarefas da pesquisa em Literatura Comparada é, segundo o pesquisador, tornar clara a diferença entre “atitude comparativa” e Literatura Comparada, uma vez que a atitude comparativa remete a épocas remotas, ao passo que a Literatura Comparada tem marcos temporais mais recentes.
“No âmbito dos estudos comparados, a comparação não é um fim, mas um meio. Conforme destaca Tânia Franco Carvalhal (2001), a comparação não é um recurso exclusivo do comparatista nem um método específico, mas um procedimento mental, um ato lógico-formal do pensar diferencial (processualmente indutivo) paralelo a uma atitude totalizadora (dedutiva)”, completa.
Nos questionamentos sobre objeto, métodos e finalidades da Literatura Comparada, o primeiro alvo de discussão ou debate tem sido o conceito, diz o pesquisador, que não é unívoco ou pacífico, de influência (que recentemente tem-se deslocado para o de intertextualidade), a que se vinculam os de imitação e originalidade.
“Também derivam outros, como paródia e paráfrase; todos igualmente plurissignificativos, formando uma espécie de rede. A influência consiste em uma transmissão menos material – a “nova” obra absorve um ou outro elemento – gênero, recursos estilísticos, ideias, temas – da outra que lhe serviu de fonte”, afirma.
Arte literária
Quanto às condições de produção de textos dramáticos e narrativos, enfatizam-se, neste projeto, as determinações básicas da obra de arte literária no sistema de comunicação da Literatura.
“Aqui temos a inserção do texto num contexto particular, o relacionamento entre as obras e o público e os vínculos entre projetos estéticos e o processo histórico-social (especialmente em períodos críticos), ficção, violência, identidade, marginalidade, subalternidade, regionalidade, entre outros”, expõe o pesquisador.
Na linha da História Literária e História Cultural, segundo Wagner, o foco é de onde emergem relações da Literatura com outras áreas do conhecimento (História, Sociologia, Psicanálise, Direito, Religião, Psicologia, Linguística, Filosofia, Política, Tecnologia e Meios de Comunicação de Massa, entre outras).
“Acrescentem-se, ao rol das possibilidades de estudos comparados, as relações entre Literatura e Teatro (texto dramático-literário e espetáculo teatral), Literatura Popular (Literatura de Cordel), Literatura e Cinema, Literatura e Música. Todas essas artes voltadas, especificamente, para a História da Literatura Comparada e de suas relações com as teorias e a Crítica Literária, bem como para o estudo das relações da Literatura Brasileira com outras literaturas. As relações se estabelecem no cotejo entre literatura e outras artes (pintura, escultura, coreografia, música, arquitetura, cinema, teatro) por meio do viés interdisciplinar ou intersemiótico, buscando menos as diferenças e mais as correspondências”, explica.
Wagner enfatiza que na esteira do pensamento crítico-teórico, destaca-se que a Literatura Comparada é um processo e não um mero produto e, por extensão, cabe ao pesquisador ter em mente que trabalhar com adaptações significa, antes de tudo, pensá-las como obras inerentemente dialógicas.
“Desde que o cinema se impôs como espetáculo de massa, provocou o interesse de filósofos, sociólogos, historiadores, linguistas, literários, jornalistas e críticos de arte em pesquisar sobre a sua produção e os seus efeitos. Devido a esses estudos, perceberam que muitos filmes divulgados (e aqueles que estão previstos a serem lançados) surgiram de adaptações de romances, teatros, poemas, quadros, músicas, danças, dentre outros. Com efeito, para a materialização deste projeto, levaremos em conta reflexões acerca de adaptação, especificidade/fidelidade, transposição/transmutação. Lembrando que, para os objetivos deste projeto, a adaptação de um texto literário para o cinema deve ser vista como um processo de (re)criação, de (re)interpretação”, completa.
O projeto reúne importantes obras como Roque Santeiro ou O berço do herói, de Dias Gomes; Vestido de Noiva e A mulher sem pecado, de Nelson Rodrigues; A Partilha, de Miguel Falabella; Dois perdidos numa noite suja, Navalha na carne, Querô: uma reportagem maldita, Quando as máquinas param e O bote da loba, de Plínio Marcos; Blue Jeans: uma peça sórdida, de Zeno Wilde e Wanderley Bragança, Balada de amor no sertão e Tia Eva, de Cristina Mato Grosso; Nekropolis, de Roberto Alvim; Nossa vida não vale um Chevrolet, de Mário Bortolotto; Liberdade, Liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel; A viagem de um barquinho e Os bichos que tive: memórias zoológicas, de Sylvia Orthof; O corcunda de Notre-Dame em cordel, de João Gomes de Sá; Huis Clos (Entre quatro paredes), de Jean-Paul Sartre; O terror de Roma, de Alberto Moravia; trechos de A Eneida, de Virgílio e Perfeição, da Legião Urbana.
A pesquisa terá ainda a participação de pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e de outras instituições de Ensino Superior, além dos discentes da graduação e pós-graduação da UFMS.
Texto: Paula Pimenta – UFMS