Com o objetivo de trabalhar a elevação da autoestima e a reinserção social através da música, aulas de canto estão sendo oferecidas a reeducandas do Estabelecimento Penal Feminino “Irmã Irma Zorzi” (EPFIIZ), na Capital. Iniciado há cerca de um mês, o projeto não ensina apenas técnicas vocais, proporciona às detentas a esperança de um recomeço diferente das escolhas que as levaram à prisão. O projeto integra as ações de tratamento penal e ressocialização da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) e acontece em parceria com o estúdio “A Flor da Arte”.
O trabalho voluntário é realizado pela professora Rosely Andrade Teles e é focado em canções religiosas. “A música é a linguagem que constrói o equilíbrio das emoções e estimula as áreas do cérebro, além de desenvolver concentração, memória, disciplina e sensibilidade”, destaca Rosely. “Nosso objetivo aqui é trazer a elas reflexão, de uma maneira alegre e profunda”, completa.
As aulas acontecem todas as segundas-feiras pela manhã e iniciam com exercícios de relaxamento. As alunas então realizam as técnicas de respiração e se familiarizam com as letras das canções. “Como o trabalho ainda é muito recente, a parte de sonorização e capacidade vocal de cada integrante está sendo avaliada aos poucos”, explica a professora.
Conforme a diretora do EPFIIZ, Mari Jane Boleti Carrilho, a ideia de se criar um coral no presídio partiu das próprias custodiadas. “Elas me procuraram e falaram que gostariam de participar de um grupo de canto. Então fui verificar a possibilidade de parceria, quando uma parceira nossa, a Maria do Roccio, que sempre nos ajuda nas realizações aqui do feminino, me indicou o estúdio “A Flor da Arte”, que é daqui da região do Monte Castelo. Entrei em contato com o Mazinho, que é o proprietário, e eles aceitaram nos ajudar”, conta.
Para a diretora, a iniciativa é muito importante para o ambiente prisional. “A música é um tratamento para a alma, traz paz e alegria, alivia o estresse, e isso contribui para que as internas fiquem mais tranquilas e com melhor disciplina”, comenta. Segundo a dirigente, a intenção é que as reeducandas possam, no futuro, fazer apresentações ao público. “Uma das apresentações que estamos programando é durante o Miss Primavera, que vai acontecer aqui na unidade em setembro”, informa.
A reeducanda Mírian Rodrigues Mota, 26 anos, é uma das participantes. Presa por tráfico de entorpecentes há dois anos, dos quais os últimos cinco meses no EPFIIZ (após ser transferida de Corumbá), ela garante que encontra nas músicas que canta no coral um estímulo para sonhar e acreditar em uma vida diferente. “Quando estou aqui cantando, me sinto falando com Deus, é muito bom, principalmente porque sei que não quero mais errar”, afirma.
A custodiada Francislaine dos Santos da Silva, 23 anos, garante que também adora participar do coral, pois “ajuda a descarregar as tensões”. Ela revela que pensa em cantar profissionalmente um dia. “Eu cantava na igreja, mas me desviei do caminho. Quero voltar a cantar de novo, quem sabe um dia eu não gravo um disco Gospel, sei que tudo é possível. O importante é sair daqui e nunca mais voltar a ser presa”, comenta.
Para o diretor-presidente da Agepen, Ailton Stropa Garcia, ações como o coral do EPFIIZ servem também para proporcionar o envolvimento da sociedade com a questão prisional. “Isso possibilita que juntos, Governo e sociedade, possamos construir um ambiente prisional mais digno e humanizado”, enfatiza.
Stropa realça, também, “não só a atitude altamente profissional e interessada da diretora da unidade, que sempre busca novas parcerias, como essa que acontece agora, como, também, a dedicação das servidoras e servidores que trabalham no presídio que, mesmo sabendo que ações como essa lhes trazem mais incumbências, abraçam a causa, porque têm ideais e acreditam na ressocialização”.
Corumbá
No Estabelecimento Penal Feminino Carlos Alberto Jonas Giordano, em Corumbá, a música também é utilizada como meio de reinserção e tratamento penal. No local, há cerca de sete anos, existe o coral “Vox in Libertae” (vozes em liberdade). Atualmente, 16 custodiadas participam.
O projeto trabalha a arte musical como atividade terapêutica, ajudando a proporcionar mais harmonia e tranquilidade ao ambiente prisional. A ideia, que inicialmente pretendia somente contribuir para canalizar positivamente as questões emocionais, hoje envolve até mesmo instrução de técnicas vocais, possibilitando a profissionalização do coral para apresentações ao público em geral até mesmo fora da unidade prisional, com autorização judicial.