plan cul gratuit - plan cul toulouse - voyance gratuite amour

Institucional

FM 104,7 [ AO VIVO ]

29 de março de 2024 - 10:13

Divo Pires Peixoto, veterano da Segunda Guerra, comemora um século de vida

Dois dias depois dos 75 anos da vitória na guerra, ex-combatente da FEB comemora o seu centenário

Divo Pires Peixoto, em 1988

Ao lado de praças, soldados, graduados, suboficiais e oficiais, Divo Pires Peixoto foi um dos integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que engrossaram as fileiras de mais de 25 mil combatentes brasileiros que ajudaram os aliados contra o nazifascismo na Segunda Guerra Mundial.

Por conta da longevidade dos heróis brasileiros que sobreviveram à guerra, a cada ano a história se torna mais rica, com depoimentos cada vez mais emblemáticos na afirmação de que a guerra é uma grande lição para entender a necessidade da permanente busca da paz.

Como Divo Peixoto, muitos dos combatentes de Mato Grosso do Sul viram a morte de muito perto, mas, por obra do destino, são exemplos de longevidade e transcenderam gerações. Longevidade que deu grande contribuição para que a memória do feito brasileiro fosse preservada de forma fidedigna.

Para Divo Peixoto, há duas datas pra comemorar neste mês. A tomada de Monte Castelo, que completa 75 anos em 22 de fevereiro, e seus 100 anos de vida, em 23 de fevereiro.

Divo, em sua residência, em Jardim (MS)

Divo Pires Peixoto nasceu na Fazenda São Francisco, em Nioaque, em 23 de fevereiro de 1920. O pai, Anselmo de Paula Pires, a mãe, Emília Pires Peixoto, e onze irmãos tocavam juntos a vida na fazenda, de modo que sua infância e adolescência foram passadas em zona rural, ajudando os pais na lida diária. Numa época em que a maior parte da população brasileira não era sequer alfabetizada, Divo teve acesso às primeiras letras por meio de professores contratados para dar aula na fazenda. Foi assim que estudou até o quarto ano das séries iniciais, hoje ensino fundamental.

Divo Pires, o cabo Peixoto

Naquela época, entre as décadas de 1920 e 1930, o sul de Mato de Grosso era pouco habitado. Nioaque e Aquidauana eram as cidades mais próximas de onde Divo vivia, onde se comprava o que faltava na fazenda, como tecidos para fazer roupa ou peças para as máquinas. Ao sul, na região da fronteira com o Paraguai, situavam-se  Ponta Porã, Bela Vista e Porto Murtinho.

Guia Lopes da Laguna e Jardim, onde o ex-combatente vive atualmente, sequer existiam.

Com 18 anos de idade, em 1º de novembro de 1938, incorporou como soldado no quartel do 10º Regimento de Cavalaria, em Bela Vista, onde serviu por um ano. Deu baixa em 3 de novembro de 1939, ano em que eclodiu a Segunda Guerra Mundial.

Divo voltou para a casa dos pais, para ajudar a família com os trabalhos da fazenda. Perto de completar 20 anos de idade, o Brasil que Divo conhecia era um país predominantemente rural. As casas eram iluminadas à luz de lamparinas. No sul de Mato Grosso, assim como na maior parte do país, as notícias chegavam pelas ondas do rádio, pelas cartas trazidas por mensageiros ou por andarilhos viajantes. A vida era simples e o trabalho no campo era duro, mas Divo tinha toda a fartura que o trabalho na fazenda podia lhe proporcionar. Não tinha razões para deixar sua terra natal e sua família.

DIVO PIRES PEIXOTO E ANDRÉ RAGALZI (DIR.) COM O MAJOR MAGALHÃES (CMT 4ª CIA E CMB MEC JARDIM – 2015

Contudo, no início dos anos 1940, os rumores da guerra deixavam os soldados da ativa e os da reserva em estado de prontidão permanente. Embora o Brasil tivesse adotado uma posição de neutralidade em relação ao que acontecia na Europa, os preparativos e as precauções necessárias vinham sendo tomados. Até que após sucessivos ataques a navios mercantes brasileiros, o presidente Getúlio Vargas tomou a decisão de declarar guerra à Alemanha, em 22 de agosto de 1942. Em pouco tempo uma Força Expedicionária foi criada. O Brasil iria à Guerra e a vida de Divo e de tantos outros brasileiros mudaria para sempre.

Em fins de 1942, o soldado da Reserva Divo Pires Peixoto, que mais tarde se tornaria cabo, foi convocado a se apresentar em Bela Vista, onde havia servido, entre 1938 e 1939. Divo considerou “questão de honra” atender ao chamado para a guerra e apresentou-se no quartel do 10º Regimento de Cavalaria de Bela Vista. De lá seguiu para Aquidauana, onde se juntou a outros militares do 9º Batalhão de Engenharia, para seguirem de trem até Campo Grande e de lá ao Rio de Janeiro onde aguardaria o embarque para a Europa, o que aconteceu em 20 de setembro de 1944.

A travessia do Atlântico não foi fácil. Uma viagem de 15 dias em um mar infestado de submarinos alemães, alojados em minúsculos compartimentos.

Divo e outros pracinhas chegaram ao porto de Nápoles, Itália, em 6 de outubro de 1944. De lá seguiram para outras cidades como Livorno, Pizza e Pistóia (nessa cidade foi instalado o cemitério dos brasileiros mortos em combate.

Divo, aos 99 anos

Divo foi lotado no quartel general da FEB. Esteve perto do front de batalha para ver com os seus próprios olhos as misérias da guerra e ouvir as bombas e os tiros que nunca saíram da cabeça de muitos dos que voltaram. Segundo relatos de uma das filhas, o pai nunca sofreu com algum tipo de trauma pós-guerra. Lembrava de tudo com emoção, mas não foi afetado pelos horrores que viu e ouviu entre 6 de outubro de 1944 e 12 de julho de 1945.

Divo passou um tempo no Rio de Janeiro, em quarentena, até o dia em que voltou de trem para o sul de Mato Grosso, para a fazenda São Francisco, onde os pais, familiares e amigos o aguardavam. Uma grande festa aguardava o filho, o amigo, um parente que voltava vivo de uma sangrenta guerra.

Poucos anos depois, em 12 de março de 1949, quando contava quase 30 anos, Divo casou com uma de suas primas, Severina Peixoto da Rosa, nascida em 18 de setembro de 1930, em Bela Vista. Divo e Severina tiveram sete filhos, três homens e quatro mulheres, dos quais nasceram oito netos e seis bisnetos. O herói febiano desfruta, merecidamente, de uma vida longa e feliz ao lado da família. Sempre trabalhando na agropecuária, primeiro na fazenda São Francisco, de seus pais e, posteriormente, em sua propriedade, fazenda Pedra Branca, em Jardim.

Divo e Severina viveram juntos por 42 anos, até o falecimento dela em 18 de junho de 1991.

Chofer do general Mascarenhas de Morais, comandante da Força Expedicionária Brasileira, Divo foi condecorado com a Medalha de Campanha pela participação na guerra; Medalha Cinquetenário do Término da Segunda Guerra Mundial; Medalha Jubileu de Ouro da Vitória; Medalha Marechal Machado Lopes; e Medalha da Vitória.

Atualmente, Divo não mora mais na área rural. Tem uma vida tranquila em Jardim e recentemente, ao lado do colega pracinha André Ragalzi, também nonagenário, participou da inauguração de monumento e, homenagem aos ex-combatentes das regiões de Bonito, Guia Lopes da Laguna e Jardim. Foi uma de suas últimas aparições públicas, rotina que será alegremente quebrada pelas comemorações de seu centenário.

Números da FEB

A FEB foi o contingente do Exército brasileiro formado por 25 mil soldados, que lutou entre 1944-45 no front do norte da Itália. Durante sua ação, a FEB fez 20.573 prisioneiros, teve 457 mortos (13 oficiais e 444 praças), sofreu 35 prisioneiros, 1.577 feridos em combate, 487 acidentados em ação de combate e 658 acidentados fora das linhas de combate.

(Edmir Conceição – com informações e fotos de Evandro Dias da Silva – 2º Sgt EB)

One Comment on “Divo Pires Peixoto, veterano da Segunda Guerra, comemora um século de vida”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *