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28 de março de 2024 - 18:55

Chegada de turista com novo perfil em MS exige qualificação

A presença de um grupo de adeptos ao esoterismo visitando paraísos ambientais de Mato Grosso do Sul, como a Serra do Amolar (Pantanal de Corumbá) e a Serra da Bodoquena, no início de agosto, abre novas perspectivas para diversificação do turismo regional. Também serviu de experimento para operadores e destinos se organizarem e trabalharem melhor um produto novo para um público de um perfil mais específico, diferenciado – e muito exigente.

Esta é a conclusão dos empresários que atenderem o grupo formado por 11 pessoas, incluindo dois lamas budistas da Nova Zelândia e seguidores brasileiros residentes em São Paulo de uma filosofia de vida chamada “mindfulness” (atenção consciente plena), cujos ensinamentos buscam mais qualidade de vida por meio da meditação e o autoconhecimento. A observação de aves é outro nicho de mercado que se desperta no Estado e atrai brasileiros e estrangeiros.

Estrangeiros adeptos do budismo passeiam pela Pousada São João: sentir o cheiro do ambiente, tocar, se comunicar com os animais, os elementos da natureza

Preparar mão de obra

A vinda dos lamas e seus discípulos com foco em um turismo de contemplação com imersão profunda na natureza em volta para ouvir o silêncio e o murmurar dos seres vivos, mostrou que é preciso planejar melhor os roteiros respeitando modos, hábitos alimentares e a leveza dos ritmos em cada atividade. Para isso, segundo o empresário João Venturini, da Pousada São João, na Estrada Parque (Corumbá), é preciso qualificação da mão de obra.

”Sem dúvida, é um turismo diferenciado, que tem tudo para crescer no Estado. Como outras modalidades que estão despontando, os grupos motorizados, os observadores de pássaros e até aqueles que acreditam em disco voador”, aponta. “O mercado deve se preparar para esse novo momento; falta ainda profissionalismo entre contratante e contratado, um bom receptivo e mão de obra qualificada para entender esse novo perfil de visitantes.”

Trilha aquática no Rio Vermelho, Estrada Parque: alguns minutos de barco com motor desligado para ouvir o silêncio, o esturro da onça-pintada rondando o lugar

A permanência dos esotéricos por dois dias na Pousada Acurizal, RPPN situada nas encostas da morraria do Amolar, distante 230 km pelo Rio Paraguai de Corumbá, foi um aprendizado, segundo o relações institucionais do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), ong que gerencia o lugar, Ângelo Rabelo. “A partir dessa visita, vamos construir roteiros que permitam ao turista interagir com essa natureza selvagem e possa sentir a energia que a região erradia.”

Atenção no atendimento

Para o diretor-presidente da Fundação de Turismo de MS (Fundtur), Bruno Wendling, a questão central é o trade adaptar-se ao tipo de motivação gerada por turistas não tradicionais, geralmente em pequenos grupos, como hábitos, consumo e atividades. “Temos os produtos já estruturados e potencial para receber novos segmentos de turista. Precisamos, porém, ficar atentos a estas pequenas adequações para atender demandas de grupos singulares”, pontuou.

Riacho de água cristalina jorrada do morro do Amolar: pausa para contemplar a natureza depois de uma caminhada de 5 km pela mata virgem da Acurizal

A viagem dos adeptos ao budismo foi organizada pela empresária de turismo de Miranda, Fátima Cordella, uma das pioneiras no setor, com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Turismo de Mato Grosso do Sul (Fundtur-MS). Ela propõe a realização de um encontro para discutir as novas demandas e ferramentas para que o trade esteja preparado para receber estes grupos. “O caminho está aberto, precisamos roteirizar os destinos”, diz.

O turismo esotérico – ou “esoturismo” – atrai milhares de pessoas em todo o mundo e o roteiro percorrido durante oito dias pelos lamas e seus alunos apresentou três situações de vivência com a natureza que podem ser comercializados futuramente, segundo Fátima Cordella. “Eles amaram os cenários que visitaram, a Estrada Parque, o Pantanal e as cachoeiras das Bodoquena, e devemos nos preparar para criar produtos de qualidade”, ressalta.

Atividade comum dos esotéricos no Pantanal: meditar caminhando. Na foto, Anne Scharplin, 63, da Nova Zelândia, na São João: entrando no ritmo da natureza

Contemplando o silêncio

A visita do grupo mostrou algumas particularidades, pelas quais as estruturas de hospedagem devem estar preparadas. Como o preparo de comida sem glúten – quebra torto, nem pensar! -, muitas frutas, água quente para seus chás diários e uma exigência que surpreendeu os funcionários da São João: apagar as luzes à noite para avistaras estrelas e meditação plena. Mas, se há outro grupo de turistas no local, como conviver com esta situação?

Os esotéricos da Nova Zelândia – lamas Tarchin Hearn, sua esposa Mary Jenkins e Jangchub Reid, que passa uma temporada no Brasil pregando o “mindfulness” – e de São Paulo fazem retiros pelos lugares que visitam, em plena conexão com o ambiente ao redor. No Pantanal e na Bodoquena preferiram a meditação no simples caminhar, preguiçosamente, em grupos ou individualmente, contemplando a revoada dos pássaros, as pegadas de animais, o silêncio…

Rara posição (de lótus) do lama Tarchin Hearn na excursão do grupo ao Pantanal: foi um passeio sem regras com seguidores e instrutores da prática do “mindfulness”

Na São João, fizeram cavalgada, observaram as aves, em especial as araras azuis, e um passeio de barco pelo Rio Miranda. No safari pela Estrada Parque, se empolgaram com uma pegada de onça-pintada. Na Acurizal, se empolgaram com a variedade de bichos, desde as saúvas e aranhas aos cantos dos pássaros, na caminhada por uma trilha de 5 km, culminando num riacho de água cristalina que desce da morraria. Na Bodoquena, banharam-se nas cachoeiras.

A internet da natureza

Autor de vários livros sobre a filosofia budista, Tarchin Hearn, 67 anos, define: “caminhando, não somente para chegar a algum lugar, mas para estar continuamente em algum lugarm o que significa estar interagindo com outras plantas e animais, montanhas e riachos, cada um com sua própria inteligência e saber”. No Pantanal, ele percebeu o diálogo entre os bichos e ficou feliz ao sentir que “a gente precisa desse lugar para remeter-nos às nossas raízes”.

Passeio de barco na Gaiva, uma das três maiores lagoas do Pantanal: inscrições rupestres e outros vestígios da presença humana há mais de oito mil anos

Na Pousada São João, do empresário João Venturini, na Acurizal ou ainda na antiga fazenda Betione, em Bodoquena, o lama saia ao amanhecer pelos espaços vazios em meio à vegetação a espera dos primeiros raios de sol, silenciosamente, para observar os animais. Outros tomavam rumos diferentes – em síntese, exercitando a chamada meditação caminhando. Na longa viagem de barco, tiveram a dimensão do tamanho do ambiente aquático pantaneiro.

“Para mim ficou claro que os animais do Pantanal têm consciência uns dos outros”, citou Hearn. “Um pássaro responde ao choro do filhote de outra ave, que se comunica com a capivara… Esta é a internet mais original. De alguma maneira, o homem perdeu isso dos animais, em estar alerta, coletivamente. O homem não tem mais medo dos animais, mas do próprio homem. Vir a esse lugar e ver e sentir isso é muito importante para a humanidade”.

Silvio Andrade – Lugares ECO

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