Chefe de Divisão de Meio Ambiente da Planurb, Mariana Massud alerta para penalidades para quem atear fogo em lixo e terrenos e aponta que prática causa danos à população

De junho a setembro, o país vive o período considerado o mais crítico pelos especialistas quanto a ocorrência de incêndios nos perímetros urbanos. Mais do que um problema ambiental, as queimadas também são risco para a saúde e podem resultar em prejuízos para a rede de distribuição de energia. Mariana Massud, chefe da Divisão de Meio Ambiente da Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano de Campo Grande), participou nesta terça-feira (4) do Bom Dia Campo Grande, onde falou sobre as ações de combate e conscientização sobre os riscos das queimadas urbanas.
À Educativa 104.7 FM, Mariana explicou que, neste ano, a campanha “Queimada não tem saúde” foi antecipada: normalmente deflagrada em agosto, ela começa em junho já em busca de resultados ao longo do período. Além de advertir que a prática de incêndios em terrenos –comumente realizada para limpeza– geram multas de até R$ 5 mil, Mariana também afirmou que, conforme estudos da Planurb junto a Secretaria Municipal de Saúde, em 2018 houve mais de 60 mil atendimentos referentes a problemas respiratórios.
“Lançamos no estudo dados da Sesau sobre infecções em vias aéreas superiores, bronquite, asma e outras. Os dados demonstram que todos os problemas respiratórios são agravados com as queimadas”, afirmou ela, explicando que a baixa qualidade do ar causada pela fumaça é um incômodo a mais nos períodos do ano de ar mais seco.
No ano passado, conforme a chefe da Divisão, o Corpo de Bombeiros registrou aproximadamente 2.300 focos de incêndios em Campo Grande nas zonas urbana e rural. “Com essa relação também se verificou que os locais de maior incidências eram aqueles, também, onde há mais atendimentos a problemas respiratórios pela Sesau”, explicou.
Só na região urbana do Bandeira (que reúne bairros como Tiradentes, Rita Vieira e Moreninhas) foram 16 mil atendimentos. Na sequência aparece o Imbirussu (Vila Popular, Santo Amaro e Santo Antônio), com 11 mil; Lagoa (União, Coophavila II e Tijuca) e Segredo (Vila Nasser, Nova Lima e José Abrão), com 10 mil cada); Anhanduizinho (Aero Rancho, Los Angeles e Centenário), com 5.287; Prosa (Vila Margarida, Carandá Bosque e Novos Estados), com 3.522; e o Centro, com 2.039. A proporção de casos também combina com o volume de terrenos baldios.
“Questão Cultural”
Mariana reconhece ser “uma questão cultural do campo-grandense juntar lixo no fundo do quintal da casa e atear fogo”, contudo, afirma que, por menor que seja a quantidade, a prática é considerada ilegal no Código de Polícia Administrativa da cidade. O mesmo vale para os terrenos baldios, sendo responsabilidade do proprietário o manter limpo.
“Muita gente nos diz que ‘não fui eu quem tacou fogo’, mas por lei é obrigatório manter o terreno limpo. Se estivesse limpo não teria pegado fogo”, alertou. Ela ainda pede que a população formalize denúncias sobre as queimadas pelo telefone 156, da Prefeitura de Campo Grande, que tomará as providências cabíveis quanto ao proprietário da área ou o autor da queimada.
“Normalmente as pessoas ligam nos bombeiros e pedem ajuda. No ano passado foram mais de 2.300 focos atendidos pelo Corpo de Bombeiros, mas pelo 156 foram apenas 169 denúncias e, destas, tivemos a atuação de 50 proprietários de terrenos por causa de queimadas”, alertou. Mesmo depois de o fogo ter sido controlado, pede-se que seja feita a denúncia via 156 para penalizar os responsáveis. “Os fiscais da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) vão até o local fazer a verificação, porque a queimada deixa rastro”.

Outra frente de trabalho envolve as ações de educação, realizadas em escolas e entidades. “As pessoas tem de entender que levamos a informação e, mesmo assim, insistem. Então a fiscalização vai autuar e vai acontecer a multa”, disse Mariana. Já há ações agendadas em 40 escolas e blitze ambientais nas regiões de maior incidência, com abordagens porta-a-porta, divulgação na mídia eletrônica e via aplicativos como o WhatsApp. Um panfleto também pode ser acessado no site da prefeitura.
“Todas as formas de tentar fazer chegar ao cidadão estamos fazendo, para que tenhamos informações e verifiquem que o problema não é ambiental, mas de saúde pública”, afirmou. O trabalho envolve 17 instituições, como Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, que participam das visitas às escolas. Materiais em vídeo também foram confeccionados para serem distribuídos nas unidades de ensino.
Reciclagem
A alternativa à queima do lixo, lembrou Mariana Massud, é a substituição da queima pelo envio do lixo aos LEVs (locais de entrega voluntária), que recebem materiais recicláveis ou aos Ecopontos da cidade, locais preparados para o recebimento de entulhos e inservíveis, incluindo mobília e eletrônicos velhos –no caso de materiais de construção, varrição e de podas de árvores, o limite é de um metro cúbico por dia. Além das unidades do Zé Pereira, Jardim Noroeste e Nova Lima, em 24 de junho será inaugurado a do União.
Os materiais são triados nos Ecopontos e destinados à UTR (Unidade de Tratamento de Resíduos), onde as quatro cooperativas cadastradas encaminham os itens para reciclagem, gerando assim emprego e renda.
Por fim, a técnica da Planurb fez um apelo dentro do Junho Verde, mês focado em ações de preservação ambiental, tanto pela redução de consumo como para adesão à coleta seletiva, “um serviço que todos pagamos junto à taxa do lixo, um direito mas também um dever. Cada cidadão é responsável pelo resíduo que gera”. Nesse sentido, lavar embalagens que podem ser recicladas ajuda a evitar prejuízo até a passagem dos veículos da coleta seletiva. “Quanto menos lixo vai para o aterro, mais vida útil este vai ter”.