Você abre a porta da locadora e até assusta. ‘Será que entrei no lugar errado?’. Os filmes nas prateleiras se perdem em meio à molecada, meninos e meninas de todas a idades, – “de 3 anos a 70” – brinca a proprietária. Nas paredes bandeirolas e no chão, álbuns de figurinhas rodeados por algumas dezenas de olhos vidrados. O verde e amarelo dão o tom e os gritos de ‘Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo’ completam o cenário, típico de Copa do Mundo.
Assim tem sido as sextas-feiras na locadora Tai Vídeo, desde que a proprietária Márcia Macedo começou com o evento ‘Troca de Figurinhas da Copa do Mundo’. E para quem ainda não está por dentro, a diversão da molecada em ano de Copa é completar o álbum de figurinhas com os jogadores e bandeiras de todas as seleções participantes do evento.
Para o Rafael ou para o Júlio César, ambos de 10 anos, não tem jeito melhor de conseguir as 682 figurinhas do que trocando com os amigos. “A gente compra os saquinhos, que custa R$ 2 e vem cinco cartas, mas não tem como saber qual jogador vai vir, por isso a gente acaba com um monte repetida. Eu tenho mais de 40. Então a melhor forma de completar o álbum é ir trocando com os amigos” detalha Júlio.
Já Rafael destaca o lado comercial da coisa. “Dá para vender também. Quem não tem figurinha para trocar, ou as que têm não servem para o outro, pode comprar do colega também. A gente vende cinco por R$ 2, igual o saquinho, a vantagem é que dá para escolher as que você precisa. Isso claro, se não for uma bandeira ou Legends, que são as seleções vencedoras e os jogadores mais famosos das Copas anteriores. Esses valem bem mais. A gente chega a trocar uma bandeira por cinco jogadores. Já uma Legends chega a valer sete figurinhas”, explica ao mostrar a página quase completa.
Os participantes também destacam que a brincadeira não tem tom de disputa. “O objetivo não é ver quem completa o álbum primeiro, porque nem tem como competir assim. A graça mesmo é trocar as figurinhas ou ver quem a gente vai tirar quando abre o saquinho”, completa Júlio.
Mas é claro que quem completa o álbum primeiro acaba se tornando mais popular entre os outros. Como é caso do Luís, 14, que está por uma figurinha e já é referência de sorte. “Luís corre aqui abrir o saquinho para mim”, grita alguém de um lado do salão. Alguns segundos depois um grito de “Messi!” ecoa e em seguida várias vozes eufóricas, uma tentando sobressair a outra, gritam propondo trocas.
Márcia explica que na sexta-feira (15) seria a última edição do evento, mas a pedido dos participantes, deve continuar durante a Copa. “Eu havia me programado para encerrar com o começo da Copa, porque achei que eles já estariam com os álbuns completos. Mas muitos ainda não conseguiram todas as figurinhas e tem gente que até terminou, mas resolveu começar outro”.
Segundo ela, a ideia do evento é promover um espaço para interação, não apenas entre as próprias crianças, mas também entre os familiares. “O legal é que os pais também vieram participar e isso aproxima a família. São algumas horas em que eles conversam, brincam, debatem, discutem, mas interagem. Enquanto estão aqui você não vê ninguém com celular na mão, por exemplo”, afirma.
Thaila, 11, e Sidineia são um exemplo. Enquanto a filha olha as figurinhas dos colegas, a mãe vai falando as que ela ainda não tem. A atividade é controlada em uma folha de papel, onde as duas fizeram a relação do que ainda está faltando. “A gente fez isso para não ficar folheando o álbum. Ele já está rasgando e a gente não quer estragar”, detalha Thaila.
Aliás, ela uma das diversas garotas que participam do evento e que param para assistir os jogos. “No começo eu comprei porque todo mundo tinha e eu também queria participar da brincadeira, mas agora eu adoro. Completar o álbum despertou o interesse pelo esporte e até me ajuda a entender melhor as regras. Eu até vou acompanhar o jogos”, destacou.
Brincadeira cara
Conforme reportagem divulgada pelo site Veja, com base nos cálculos do estatístico Marcelo Leme Arruda, autor do blog Chance de Gol, a forma mais cara de completar o álbum é ser um ‘colecionar solitário’, ou seja, não trocar figurinha com ninguém e nem encomenda as faltantes para a editora. Torcedores com esse perfil terão um gasto aproximado de R$ 1.937,69, sem contar o valor do álbum.