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Institucional

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29 de março de 2024 - 00:48

Adriano Oliveira: “É quase que impossível não nos tocarmos com as dificuldades e dores alheias”

O terceiro setor tem sido aquele pequeno barco que salva muitas pessoas nas suas dificuldades, ao contrário das grandes embarcações, que faz muito barulho e não alcançam muita gente. O ativista social Adriano Oliveira é um dos maiores representantes do terceiro setor em Mato Grosso do Sul. Com 55 anos e uma longa trajetória em trabalhos sociais, Adriano atua na área social há mais de 25 anos. Atualmente é vice-presidente do Instituto Amigos do Coração (IAC). Nas últimas eleições foi candidato a vereador pelo partido Rede Sustentabilidade e conseguiu uma expressiva votação, mas não conseguiu se eleger. O IAC é uma instituição que leva atendimento médico-odontológico para clínicas de recuperação de adictos de Campo Grande e para as comunidades indígenas de extrema vulnerabilidade social do interior de Mato Grosso do Sul, dentre outras ações.

  • Como ativista social, como você vê a situação do Brasil hoje. Avançamos alguma coisa nos últimos anos?

Adriano: Atuo no terceiro setor há mais de 20 anos e tive a oportunidade de ver um crescimento exponencial do ser humano em praticar a solidariedade. Não me refiro à prática da caridade, mas sim da doação de tempo útil, de colaboração financeira e material, mas principalmente do comprometimento com as práticas e projetos que desenvolvemos na área social.

Por residirmos em um País com tantas diferenças sociais e econômicas, a vulnerabilidade está visível à maioria da população, e é quase que impossível não nos tocarmos com as dificuldades e dores alheias. Vínhamos há uns seis anos, em uma esteira de franco desenvolvimento e engajamento de voluntários, dispostos a arregaçar as mangas e trabalhar em prol do próximo e também do não tão próximo. Porém, com a vinda do vírus, primeiro houve o temor do contágio, o afastamento e infelizmente muita gente abandonou os compromissos assumidos com os projetos sociais. Infelizmente, estamos em um estágio de arrefecimento. As pessoas, devido às dificuldades enfrentadas com a pandemia, decidiram priorizar os próprios problemas. Nada de errado com isso, mas como ficam aqueles que não contam com nenhuma infraestrutura de vida? Como ficam os que perderam seus empregos, suas casas, seus entes queridos?

  •  O terceiro setor tem sofrido duros ataques do Governo Federal, com boicotes e discriminação. Há uma luz no fim do túnel?

Adriano: Infelizmente, o Governo Federal quando iniciou seu mandato, disparou mísseis sobre as organizações do terceiro setor. Não tomou um mínimo de cuidado em separar as instituições sérias (centenas), das que cometeram crimes. Amealhou-as num mesmo cesto, generalizando crimes, como se todas as organizações fossem criminosas. Deu margem, de certa forma, ao cidadão comum, que viu os ataques serem verticalizados pela autoridade máxima da nação, de também se acharem no direito de criticar, ou mesmo boicotar, projetos sérios e necessários. Mas, é evidente que em muitas comunidades o braço do governo não chega, e quem sempre se faz presente são as organizações sociais.

A população tomou consciência dessa importância exatamente com a chegada da pandemia e é uma lástima o poder público, por questões político partidárias, desmerecer essa importância e tentar praticamente, extinguir este setor.

  • Aqui no MS, a entidade a qual é vice-presidente vinha desenvolvendo um belo trabalho. Como foi em 2020, com a Pandemia?

Adriano: A princípio, com a chegada da pandemia, decidimos por interromper toda e qualquer ação que pudesse colocar em risco a saúde dos nossos voluntários, bem como das comunidades que assistimos. Mas tudo se agravou, os problemas e as carências aumentaram e nos deparamos com o caos, com a total falta de estrutura e apoio para com a população vulnerável. Centenas de pedidos por alimento, medicamentos, equipamentos de proteção etc. De forma responsável e consciente, retomamos as ações, nos adequando com a realidade do distanciamento social.  Fizemos diversas ações de modo remoto, como “lives” para a arrecadação de alimentos, que era a necessidade mais premente, além de compra de EPIs, para enviarmos às comunidades assistidas por nossos projetos. Na medida do possível, de forma emergencial, conseguimos amenizar as necessidades daquelas pessoas, e de certa forma, elas puderam se sentir amparadas.

  • Você acredita que com o fim da Pandemia teremos uma sociedade melhorada ou só vamos ter aprendido a lavar as mãos e usar máscara?

Adriano: Apesar de toda a dor e ensinamentos que esse período nos trouxe, veio também uma forte onda de intolerância, ignorância, falta de compreensão e empatia para com o outro. De verdade, lamento profundamente que num momento tão adverso para a humanidade, onde o esperado seria unirmo-nos em prol de um senso comum, que é a cura para um mal que assola o planeta, tenha havido espaço para negacionismos, para desentendimentos políticos, para questionamento sobre a ciência, sobre a existência de vírus letal.  Isso sim denota um atraso inclusive moral. Mas, acredito piamente que o ser humano, apesar de todos os tropeços, se encontra a caminho da evolução. E tudo que tem acontecido de “ruim”, de certa forma repercutirá para o desenvolvimento da humanidade.

  • Na última eleição conseguimos eleger só uma mulher na Câmara. A que você atribui essa falta de representatividade, já que o eleitorado feminino é o maior numericamente?

Adriano: Tive a oportunidade de participar do último pleito, e de fato constatei que houve sim muitas candidaturas femininas. Porém, grande parte delas foi inserida apenas para se cumprir com as cotas impostas pela lei. Em meu entender, é evidente que não há um trabalho de inserção da mulher no meio político, que seja desenvolvido fora de um período eleitoral.

Além disso, noto também que, infelizmente, grande parte do eleitorado feminino e masculino, não considera gênero um critério relevante e acabam não votando em mulheres. Basta vermos quantas foram eleitas para a câmara municipal. Nada justifica a ausência da mulher na vida política parlamentar. Vejo que é necessário haver um “movimento” a nível nacional, que estimule o voto em pessoas do sexo feminino. Algo didático, educacional.

  • No caso do Terceiro Setor, também temos poucos representantes ou quase nenhum ocupando cargos públicos ou eleitos. Por quê?

Adriano: Na verdade acho que esse quadro está mudando. Os ataques do Governo Federal ao terceiro setor nos fez ver o quanto é necessário participarmos da vida político partidária do país, nos tirou da zona de conforto. Nas eleições passadas, muitas candidaturas ao legislativo municipal tinham como ponto de apoio, o trabalho realizado no terceiro setor. Mas acho que ainda há um pudor por parte dos trabalhadores da esfera social, em entrarem para a política, por acharem que isso seja incompatível.

É primordial que tenhamos representantes em todas as esferas públicas, principalmente nas que são exercidas através de voto, pois somente eles podem impedir a extinção de projetos governamentais de ajuda assistencial e humanitária à população. Num governo onde não se prioriza a melhora básica da vida das pessoas, é que podemos ver a importância do terceiro setor, com representantes que possam nos dar voz.

  • Em MS nossa população indígena agoniza com os desmandos do Governo Federal, com doenças, violência, falta de alimentos. O que pode ser feito para melhorar esse quadro?

Adriano: É neste momento que vemos a importância de termos um terceiro setor fortalecido. É notória a negligência do governo com relação a essa população.  Com raras exceções, o povo indígena está relegado à própria sorte. Não há um programa de políticas públicas efetivo, que reconheça e ampare as reais necessidades do povo originário. O que falta na verdade, é a boa vontade em reconhecer e respeitar o valor que o indígena tem.

Atuamos em uma comunidade indígena no sul do estado de MS, através do Instituto Amigos do Coração há três anos. Por mantermos a constância das ações, na área da saúde, especificamente na área odontológica, com desenvolvimento de programas de higiene oral, atendimento curativo e também didático, houve uma redução drástica no número de extrações. Implantamos com o projeto “Devolvendo Sorrisos – Aldeias indígenas”, além dos atendimentos, a distribuição de kits de higiene bucal, como escova e creme dental, abastecendo a população das comunidades. Se houvesse interesse em ofertar melhora de vida aos indígenas, o governo não retiraria apoio às instituições que trabalham lá.

  • O Instituto Amigos do Coração faz um trabalho eficiente com algumas aldeias (poucas) na área da saúde. Qual a perspectiva para o futuro. Será possível ampliar esse atendimento? Do que precisam?

Adriano: Há oito anos, demos início ao projeto “Devolvendo Sorrisos” que tem como carro chefe, o atendimento odontológico, médico e médico veterinário, além da parte assistencial. Na ocasião, assistíamos às comunidades ribeirinhas, localizadas na região do pantanal sul-mato-grossense. Enfrentamos diversas dificuldades para a realização dessas missões que ocorriam a cada seis meses. Tais missões possuem um custo relativamente alto com relação a combustível, transporte, alimentação e principalmente com o material que utilizamos nos atendimentos. Porém, contávamos com o apoio do Exército Brasileiro, que nos fornecia a embarcação para a navegação no Rio Paraguai. De fato, um apoio imensurável, que com a entrada do novo governo em 2018, tivemos todas as ajudas e parcerias com o Exército, canceladas.

Tentamos não interromper as missões para o pantanal, mas devido aos altos custos com aluguel das embarcações, tornou-se inviável. Nossa instituição vive de doações e não tem fins lucrativos. Com a retirada da ajuda do exército, tivemos que focar em outras comunidades com acesso por terra e com menores custos. Fizemos uma adequação e demos início às missões nas comunidades indígenas rurais: Vila Campestre e Ñhanderú Marangatú, localizadas no município de Antônio João.

O projeto atende em torno de duas mil pessoas a cada missão (procedimentos realizados). Devido à proximidade com o Paraguai, muitos se deslocam para Antônio João, a fim de receberem os atendimentos.  Para o custeio das despesas, realizamos eventos para angariar fundos, e contamos também com pagamento de mensalidades feito por nossos voluntários e apoiadores. Mas grande parte das doações vem da população que se mobiliza e se comove com nossos apelos.

  • Você tem um filho adolescente. Que mundo vamos deixar para ele e outros jovens, alguns que nem entendem direito o que está acontecendo?

Adriano: Meu filho cresceu me vendo envolvido com trabalhos sociais. Ele tem total compreensão do que entendemos ser valioso. E um dos princípios básicos da educação que ofertamos a ele, é que temos o dever de sermos solidários, de nos comovermos com a dor do outro. Pois não acreditamos que chegaremos a lugar algum enquanto houver uma criança chorando de fome, ou alguém dormindo em baixo de barraca de lona plástica.

  • Que conselho você daria para quem entrou em 2021 cheio de dor pela perda de entes queridos ou está desempregado e sem perspectiva?

Adriano:  Mesmo que tudo ao redor demostre descaso, frieza e desrespeito, há muita gente envolvida com o bem comum. Que a experiencia terrena é uma escola necessária para a nossa evolução e que, apesar de todas as dores e dificuldades, o que o mundo tem de mais belo é a oportunidade de estarmos vivos e respirando!

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